Poucos nomes da moda brasileira personificam um misto de glamour, teatralidade e rebeldia como Conrado Segreto. Nascido em São Paulo, ele teve uma carreira breve, morreu em 1992, aos 32 anos, vítima de Aids, mas deixou uma marca profunda no cenário nacional. Segreto fez apenas quatro desfiles monumentais, mas cada um deles foi um espetáculo. Ele tratava a mulher como uma figura poderosa, usando inspiração internacional, da alta-costura europeia a nomes como Yves Saint Laurent, Balenciaga e Dior, misturada a doses de pop, cores vibrantes, plumas, penas e volumes impulsionados pelo desejo de encantar e chocar ao mesmo tempo.
Sua técnica como ilustrador também era admirada e reconhecida como arte. Os croquis de Conrado tinham traços precisos e ousados, que combinavam rigidez e fluidez, clássico e moderno. Muitos desses desenhos hoje são vistos quase como obras independentes, capazes de transmitir a intensidade de sua visão estética mesmo sem sair do papel.
De volta ao presente: projetos que revivem o legado
Três décadas depois de sua morte, Conrado Segreto vive uma espécie de renascimento simbólico na moda brasileira. Projetos culturais, exposições, coleções cápsula e homenagens têm resgatado sua obra, tornando-a acessível para novas gerações. Um dos projetos mais marcantes nesse movimento é o “Carol Bassi Visita Conrado Segreto”. A marca, em parceria com a família Segreto e o Centro Universitário Belas Artes, tem promovido desfiles e coleções inspiradas no estilista. Croquis inéditos da primeira coleção de Conrado, de 1989, foram exibidos em eventos, e uma coleção limitada reinterpretou seus códigos mais icônicos, volumes dramáticos, laços marcantes, parkas, o clássico preto e branco, o cor-de-rosa e a padronagem pied-de-poule.
O desfile realizado entre o Shopping Cidade Jardim e a Usina São Paulo deu vida nova a uma estética que parecia adormecida. Mais do que revisitar o passado, essas iniciativas demonstram como o trabalho de Segreto ainda pode dialogar com a moda contemporânea, mantendo sua essência de espetáculo e elegância.
Alta-costura brasileira? Segreto como referência de luxo, arte e memória
Uma das grandes discussões que surgem a partir desse resgate é a possibilidade de reconhecer uma alta-costura brasileira. Se existe um nome que simboliza essa ideia, esse nome é Conrado Segreto. Suas criações levavam ao extremo o rigor técnico, com acabamentos manuais e tecidos nobres que remetiam à tradição da haute couture europeia. Ao mesmo tempo, havia algo profundamente brasileiro em sua moda: os desfiles grandiosos em espaços icônicos, como o Museu do Ipiranga iluminado de rosa, e a constante integração com a música e a arte locais. Segreto não apenas importava a linguagem do luxo, mas a reinventava no nosso contexto cultural.
Por que seu trabalho ecoa hoje
O legado de Conrado Segreto ressoa no presente por diferentes razões. Em um momento em que a moda discute identidade, diversidade e originalidade, revisitar um criador que sempre buscou um estilo próprio é também um ato de afirmação cultural. Sua estética luxuosa e extravagante oferece uma alternativa ao minimalismo e à moda utilitária, reafirmando o fascínio pelas plumas, volumes e contrastes que ele tão bem dominava.
Além disso, a retomada de seu trabalho tem valor educativo. Integrar seus croquis e desfiles em cursos, exposições e coleções atuais reforça a ideia de que moda é também cultura e patrimônio. Mais do que uma homenagem, esse movimento garante a sustentabilidade da memória cultural brasileira, preservando a obra de um estilista que construiu identidade e ousadia em um mercado ainda em formação.
Os desafios de manter vivo um legado tão dramático quanto belo
Resgatar Conrado Segreto não é uma tarefa simples. Parte de seu espólio ainda precisa ser documentada, catalogada e preservada. O equilíbrio entre reverenciar seu estilo e adaptá-lo ao presente também é delicado: a linha entre tributo e nostalgia pode ser tênue. Outro desafio é o próprio mercado da moda atual, marcado pela velocidade e pela lógica de consumo imediato, enquanto o trabalho de Segreto falava de luxo, arte e precisão.
Ainda assim, cada nova iniciativa amplia sua presença para além dos círculos restritos da moda, alcançando públicos mais amplos e reafirmando seu papel como um dos criadores mais importantes da história do Brasil.
Conrado Segreto foi um estilista que, mesmo existindo por pouco tempo, deixou marcas indeléveis na moda brasileira. O amor pela alta-costura, o espetáculo, a expressão artística e a teatralidade estavam em cada detalhe de suas coleções. Hoje, seu nome vive uma nova fase, não apenas como memória, mas como fonte de inspiração para uma moda que busca identidade e ousadia.
Se a alta-costura brasileira vai ou não se consolidar, o legado de Segreto é uma prova de que temos imaginação, técnica e coragem para isso. Reviver sua obra é, ao mesmo tempo, celebrar estilo e cor, mas também fazer justiça histórica: reafirmar que moda é arte, é cultura e é memória.