A edição N60 do São Paulo Fashion Week, que celebra os 30 anos do evento, traz energia nova ao line-up com duas estreias que desfilam pela primeira vez com coleções completas de roupas: Uó por Marcelo Sommer e Chapéus Davi Ramos. Ambas trazem abordagens autorais distintas: uma focada no upcycling e outra expandindo sua atuação de acessórios para o vestuário, e contribuem para que essa edição seja não só uma homenagem ao passado, mas uma expressão viva do que a moda brasileira pode ser.
Uó por Marcelo Sommer: upcycling com narrativa autoral
Marcelo Sommer é um nome já bastante estabelecido no cenário brasileiro da moda, com história que remonta aos anos 1990. Ele se prepara para estrear na SPFW N60 com sua nova marca, Uó, que ele descreve como uma “nova marca de upcycling, que traz um trabalho que eu faço desde 2019”.
O conceito de Uó está centrado em ressignificar peças de roupas, transformando roupas antigas ou remanescentes em looks únicos, lúdicos e com baixo impacto ambiental. Sommer já tem experiência com marcas próprias como Sommer e Do Estilista, o que sugere que ele conhece bem o processo de produção, modelagem e narrativa de moda autoral brasileira.
Na passarela, Uó apresentou peças que mostram a estética do upcycling sem abrir mão da sofisticação: cortes precisos, formas inesperadas, estampas e patchworks que contam histórias, e uma interface com o visual contemporâneo das ruas. Também é interessante observar como Sommer equilibra a necessidade de inovação sustentável com viabilidade de uso e apelo comercial.
Chapéus Davi Ramos: além da cabeça, vestido como extensão
A outra estreia de destaque é a Chapéus Davi Ramos, marca já conhecida por seus acessórios de cabeça, chapéus icônicos, estilizados, estruturados, agora expandindo seu universo para incluir roupas. No SPFW N60, Davi Ramos apresentou sua primeira coleção de vestuário, combinando sua expertise em chapéus com tecidos como tule, seda, gazar, organza: materiais que sugerem leveza, transparência e um ar de exclusividade.
O posicionamento é sob medida: peças exclusivas e sob encomenda, um movimento para além do acessório, para o corpo, para a vestimenta completa. Isso permite que Davi Ramos mantenha seu DNA artesanal e personalizado, mesmo em roupas. Uma coleção que dialoga com o universo do glamour, da festa, do visual poderoso, talvez explorando contrastes entre o volumoso do chapéu e a fluidez do tecido das roupas, ou a transparência versus estrutura.
O que essas estreias sinalizam para o futuro da moda brasileira
Essas duas marcas estreantes na SPFW N60 trazem mensagens importantes: sustentabilidade e produção autoral. Uó reforça o movimento de upcycling, economia circular e moda consciente; Chapéus Davi Ramos aponta para a valorização do feito à mão, do detalhe e da identidade individual, peças que são desejadas não só por estética, mas por história, exclusividade.
Elas ajudam a compor uma SPFW mais plural, que não se baseia somente nos grandes nomes, mas abre espaço para inovação e novos perfis. Esse tipo de estreia pode incentivar outras marcas, especialmente pequenas, a ousarem lançar propostas diferenciadas, trazer roupa sob encomenda, edição limitada, materiais menos convencionais, narrativas mais pessoais.