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Moda Brasileira e Clima: caminho até a COP30

17 de outubro de 2025

#Cultura de Moda

By: Redação

Com o Brasil confirmado como sede da COP30, que ocorrerá em Belém, o setor da moda se aproxima de um momento decisivo para mostrar como pode contribuir para a agenda climática. A moda brasileira, por sua vez, tem avançado em diferentes frentes, desde economia circular, passando por bio-materiais da Amazônia, até produção local —, mas ainda convive com dilemas importantes de transparência, justiça social e impactos ambientais.

Iniciativas que respiram sustentabilidade

Nos últimos anos, diversos designers e marcas no Brasil têm buscado incorporar práticas sustentáveis em seus processos. Projetos como Re(weaving) Amazônia exemplificam esse movimento, reunindo designers que utilizam materiais amazônicos como látex, fibras naturais, bio couro feito a partir do cacau ou de resíduos alimentares, além de técnicas artesanais indígenas. Esse tipo de produção respira autenticidade e reafirma uma moda que respeita território, tradição e natureza.

Outra frente forte é a economia circular: programas de reutilização, reaproveitamento de sobras têxteis, roupas de segunda mão, certificação “Lixo Zero” para brechós e empresas que reavaliam seus resíduos. A Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX) tem papel relevante nesse processo ao auditar fornecedores, incentivar práticas de responsabilidade socioambiental e chamar atenção para que sustentabilidade não seja só discurso de marketing, mas critério de operação.

Transparência e justiça climática ainda como metas

Embora haja progresso, múltiplos relatórios apontam que as práticas ambientais no Brasil ainda estão longe do ideal em termos de transparência. Poucas marcas publicam metas climáticas com base científica, muitas omitindo dados sobre emissões ao longo de toda a cadeia produtiva ou sobre uso de matérias-primas e químicos nocivos. Essas lacunas são críticas porque dificultam a avaliação dos impactos reais e a comparação entre marcas ou práticas.

Rio Ethical Fashion. Foto: Divulgação/Rafael França

Além disso, há uma preocupação crescente sobre justiça climática — entender quem sofre os impactos do modelo da moda: são quase sempre comunidades vulneráveis, trabalhadores têxteis informais, povos indígenas cujos biomas são explorados ou destruídos, e mulheres nas bases da cadeia produtiva. Esse aspecto social precisa caminhar junto com o ambiental para que as iniciativas sejam realmente transformadoras.

O papel da legislação, das entidades e da COP30

A aproximação da COP30 estimula que o setor de moda brasileira pense mais estrategicamente sobre sua contribuição ao compromisso climático nacional. Entidades como Pacto Global, ABVTEX e organizações ambientais e sociais têm cobrado do setor mudanças concretas, regulatórias e práticas, que vão além de promoções ou comunicação. Há, por exemplo, a publicação de Cadernos de Justiça Climática para os setores de moda e têxtil, que orientam empresas sobre como reduzir emissões, respeitar direitos humanos e trabalhar com equidade.

Também se fala de políticas públicas que apoiem o uso de matérias-primas sustentáveis, certificações, incentivos fiscais para produção ecológica ou artesanal, regulamentação para resíduos têxteis, logística reversa, regulação de importação de materiais poluentes, e estímulos à inovação local. Esses instrumentos são vistos como essenciais para que o setor não fique à mercê apenas da boa vontade ou do mercado consumidor.

Desafios que persistem

Apesar das iniciativas promissoras, permanecem desafios estruturais. Muitos negócios de moda no Brasil ainda operam com margens apertadas, o que dificulta investimento em tecnologias verdes, certificações ou matéria-prima de baixo impacto. A logística, o custo de materiais e importações, e o acesso a conhecimento técnico também seguem como barreiras.

Além disso, há uma tensão entre moda rápida (“fast fashion”) e modelos mais lentos, artesanais ou circulares. Consumidores muitas vezes preferem tendências de baixo custo, encurtando a vida útil das peças; por outro lado, produtores que querem operar de forma responsável enfrentam pressão de custo, prazo e escala.

Potencial de liderança e o que esperar

O Brasil possui vantagens únicas para se tornar referência em moda climática: biodiversidade, culturas tradicionais com saberes ancestrais, comunidades indígenas que trabalham tecidos naturais, história de bio-matérias amazônicas, capacidade de criar narrativas estéticas fortes que dialogam com diversidade. Se bem aproveitado, isso pode posicionar o Brasil como protagonista na moda regenerativa, não apenas consumidor ou produtor, mas agente de identidade, inovação e responsabilidade.

Na reta para a COP30, espera-se que marcas brasileiras façam anúncios mais concretos: metas de redução de emissões, compromissos com cadeia de produção, medidas verificáveis de gestão de resíduos, e que essa tenha sido uma conferência não só de discursos, mas de planos de ação tangíveis.

A moda brasileira está no limiar de uma virada cultural e econômica: entre o cuidado com o planeta e a necessidade de relevância, o setor está criando novas formas de fazer, mais conscientes, mais lentas, mais justas. A COP30 representa uma oportunidade histórica para consolidar essas transformações. Para isso, transparência, justiça social, inovação e compromisso serão chave e a moda pode (e precisa) assumir seu lugar no centro das soluções climáticas, não apenas como expressão estética, mas como parte do futuro viável do planeta.

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fashion

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