Fui para Paris no mês passado para fazer um curso sobre moda francesa e cobrir a Paris Fashion Week e através dessa viagem, dou o start na minha primeira coluna na Z. Na minha passagem pela capital da moda, tive o prazer de conhecer vários ateliers de Haute Couture, um termo muito usado no mundo da moda e que talvez você já tenha até escutado.
Haute-Couture, em português, significa alta-costura, e é considerado patrimônio cultural francês, portanto, só é encontrada em Paris. Para se ter ideia, existe uma semana de moda dedicada apenas a ela. Essas peças, geralmente vestidos e casacos, possuem um rigor técnico e estético de extrema qualidade, são feitas a mão e sob medida.
É comum pensar que uma marca de luxo é sinônimo de alta-costura, entretanto, para fazer parte da Haute-Couture é necessário ter os critérios estabelecidos pela Chambre Syndicale de la Haute Couture, ou melhor, Câmara Sindical da Alta-Costura.
Vamos falar um pouco de história, para podermos entender melhor esses critérios. Em 1845, o inglês Charles Frederick Worth, considerado “pai da alta-costura”, mudou-se para Paris onde abriu seu atelier, a Casa Worth, em 1858. Ele foi um visionário para moda, elaborando vários aspectos que mais tarde, se tornariam fundamentais para a Haute-Couture, como por exemplo os desfiles das peças em modelos, as etiquetas com seu nome, trazendo a questão da marca, e um calendário de coleções de acordo com as estações.
Anos mais tarde, Worth já contava com muitos funcionários e viu a necessidade de criar um sindicato para esse tipo de trabalho. Nasce, então, a Câmara Sindical da Costura, em 1868. O grande estilista Paul Poiret, que havia sido assistente de Worth, cria em 1910 a Câmara Sindical da Costura Parisiense, como forma de destacar e proteger o “savoir-faire” (saber fazer) francês.
Na Segunda Guerra Mundial, Hitler queria levar a sede da Câmara Sindical da Costura Parisiense para Berlim, e na época, Lucien Lelong presidente da Câmara, elaborou várias regras da alta-costura, que impediram que a mesma saísse de Paris. A primeira delas, foi mudar o nome para “Chambre Syndicale de La Haute Couture”, e a segunda e a mais importante foi que só existiria alta-costura em Paris.
Além disso, para ser considerado alta-costura é necessário que a “Maison”, ou seja, a casa, esteja na região chamada Triângulo de Ouro, que compreende as avenidas, Champs-Élysées, Montaigne e Georges V, precisam ocupar todos os andares do prédio, que deve ter uma estética própria e que não pode ser alugado. No térreo, devem estar localizadas as lojas e no primeiro andar, espaços exclusivos para clientes. Todas as peças devem ser feitas a mão e sob medida, o cliente deve prová-la pelo menos três vezes. Todas as Maisons devem ter pelo menos um perfume e apresentar 35 modelos em seus desfiles, mesmo número de funcionários que o atelier deve ter. Ou seja, uma peça de Haute-Couture é conceitual, única, feita a longo prazo, com os materiais mais nobres que existem.
Em Paris, tive a honra de conhecer uma das Maisons que entrou para esse grupo seleto da Haute-Couture, composto por 17 casas oficiais, como Dior, Chanel e Gyvenchy, a Maison Rabih Kayrouz.
Aos 16 anos, Rabih Kayrouz saiu do Líbano para estudar na Chambre Syndicale de la Couture Parisienne, em Paris, onde teve a oportunidade de trabalhar nas Maisons da Dior e da Chanel. Após a temporada em Paris, voltou para Beirute, para abrir seu próprio atelier. Em 2008, voltou para a capital da moda para abrir seu segundo atelier, com 20 anos de marca. Em seu atelier de Houte-Couture, acompanhei todo o processo da elaboração de um vestido, seus croquis, moldes, cortes, montagem, até a peça final.