Lilian Pacce para Consuelo Blocker

A trajetória da jornalista na moda

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Lilian Pacce para Consuelo Blocker
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Por Consuelo Blocker                                                     

Lilian Pacce foi chefe de Costanza Pascolato, minha mãe. Há tempos sabia disso, mas não bem como tinha acontecido. Durante o Minas Trend, Lilian me concedeu essa entrevista super cândida e generosa, em que conta da sua carreira e como ela consegue equilibrar trabalho e família entre risos e gargalhadas. Confiram!

Consuelo: Nos conte a sua timeline como jornalista.
Lilian: Eu comecei muito cedo. Sempre quis trabalhar em jornal diário. Queria transmitir notícias engajadas, que mudassem o mundo. Fazia muito freelancer e na época a Capricho me convidou para ser editora de beleza. Na época, nem era formada ainda! Cheia de idealismo, não aceitei a proposta. E aí tive a sorte de ser chamada para trabalhar na Folha de S. Paulo. Realizei um sonho! Fui editora da Folha com 23 anos, uma das mais jovens. E mesmo lá dentro as pessoas vinham me pedir conteúdos de moda.

Consuelo: Por que?
Lilian: Não sei. Eu acho que o meu jeito inspirava essas ideias. Não conhecia nada sobre moda, tive que ir atrás. Não tinham faculdades de moda, tinham poucas revistas. Trazíamos revistas de fora, mas demorava 3 meses para chegar.

Consuelo: E quem quer trabalhar com moda?
Lilian: Acredito que quem quer entrar na área, especialmente na comunicação, você precisa estudar. E, apesar de ainda ter uma imagem relacionada à futilidade, que vem mudando, a moda conecta muitos assuntos. Você tem que ter uma cultura geral muito ampla para entender a moda. Olhar para arte, música, esporte, mundo, refugiados. Para você entender o momento da moda e qual a relevância daquilo.

Consuelo: E Costanza?
Lilian: Quando eu vi eu já era responsável pela moda na Folha e foi aí que chamei a Costanza para trabalhar comigo. Um dia recebi uma ligação dela. Perguntei: “Costanza, você me pedindo emprego?”. E ela disse que queria escrever para a Folha. Eu falei: “claro, é obvio que você vai escrever aqui”.

Consuelo: Quais características suas te levaram como editora?
Lilian: Eu sou uma pessoa muito curiosa e insistente. Não consigo fazer nada pela metade. Eu comecei a aprender sobre a moda com os entrevistados que eu admirava. Lia muitas revistas, livros, conhecimento. Eu gosto do novo. Até hoje estudo muito. A moda não para. Há momentos que estressa, porque você não consegue não querer saber.

Consuelo: Continue sobre a trajetória…
Lilian: Fui morar em Londres quando meu marido foi correspondente da Folha. Eu cobria as semanas de moda de lá. Quando eu voltei, fui para o Jornal da Tarde do Estadão. Depois, a Harpers Bazaar ia lançar no Brasil e então fui dirigir a revista. Acabou não dando certo, mas já haviamos contratado, montado redação. Depois, eu e um time composto por Paulo Martinez, Dulce Pickersgill, João Carrascoza, Leda Gorgone lançamos o primeiro jornal diário do São Paulo Fashion Week, que era o Boletim da Moda. De lá continuei escrevendo para o Estadão, às vezes três vezes por semana. Mas, a moda era pura efervescência nos anos 90. Em 2000, fui convidada para o GNT Fashion. Fiz por 18 anos. Para mim a TV foi um desafio, porque sou tímida. Foi maravilhoso!

Consuelo: E o blog?
Lilian:Meu marido falava para eu fazer. Mas, eu pensava: “mais um trabalho”. Daí, um dia ele me deu um pronto. Eu falei “Que presente de grego”. Mas, me entusiasmei. Hoje, depois de 10 anos, eu e minha equipe trabalhamos nele.

Consuelo: Para fechar, nos conte sobre seu livro.
Lilian: “O Biquini Made in Brazil” demorou 13 anos para ser feito. Acho que foram quatro ou cinco versões antes da original. Tem versão em português e inglês. Eu tenho lua em virgem, os detalhes me seguram. Tive o prazer de lançá-lo também em Paris, capital da moda, uma das grandes realizações da minha vida.

Como era o clima da redação?

Era vibrante. Eu tive a sorte de pegar a transição da Folha para o novo projeto editorial. Era uma geração de jovens com vontade de mudar tudo, fazer loucuras. As reuniões de pauta eram maravilhosas, nós vivíamos pelo jornal 24 horas por dia. Ninguém ligava de sair tarde e entrar cedo. Aliás, adorava minhas olheiras, passava um batom preto da M.A.C, eu era bem dark. Quando eu comecei a cobrir os desfiles, eu estava em Paris, foi minha primeira cobertura.

A Costanza e o Fernando de Barros estavam lá e, na época, a Folha era o maior jornal do país. Mas, eu via que as pessoas me tratavam muito mal lá. Então, a Costanza e o Fernando me falaram:  “Lilian você tem que entender que o Brasil não vende, o Brasil copia. Eu respondi: “Mas eu trabalho na Folha de S. Paulo”. “Você acha que Folha de S. Paulo é The New York Times aqui?”, foi a resposta deles.