A era da anti-tendência

Se consumir por consumir já era démodé, a pandemia confirma seu extermínio. Design emotivo entra em cena e valoriza a atemporalidade e o conforto

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A era da anti-tendência

Por Raíssa Zogbi

Janaína Salgado

A passos lentos e graduais, o mundo e, como consequência, a moda trilhavam caminhos mais conscientes em direção a um consumo slow, com propostas atemporais e mais duradouras. Diante do cenário de covid-19, o que era processo virou marco, e trouxe toda e qualquer mudança do futuro para agora. Sim, o isolamento social provocou (e provoca!) incontestáveis mudanças comportamentais no mundo, e para atender às novas demandas, a moda e suas dinâmicas precisarão se reinventar.  “Vemos os efeitos psicológicos alterarem e ressignificarem o design de moda. Não é sobre o que vai vender, mas o que oferecer para a vida do cliente melhorar”, reflete a trend hunter e fundadora da Trend², plataforma de pesquisa e consultoria de tendências, Janaína Salgado. Em entrevista para a Z Magazine, ela analisa novos hábitos pós covid-19. Acompanhe!

Em casa, mas arrumada!

A necessidade de novidades a cada estação perde seu espaço para uma moda muito mais atemporal e que agrega valor ao lifestyle do consumidor. O ato de se vestir para permanecer em casa ganha um novo significado e dimensão, e atemporalidade, conforto e distanciamento de ostentações são palavras que terão forte influência nesse novo mundo. “Vemos um novo momento da moda, com valorização do design do conforto, do acalanto, do abraço, aliados à técnica e responsabilidade social e ambiental”, reforça Janaína.

Mas, a pergunta que fica é: continuaremos a ter tendências? “Não deixaremos de ter novas informações porque elas são respostas do destino que o comportamento humano irá tomar, e estamos em constante evolução. Almejaremos novidades positivas. Mas, teremos sim, uma desaceleração do esgotamento de discurso e criatividade na moda”, afirma Janaína.

Novo design

Com a valorização da natureza, do estar em família e de segurança, o design do conforto acompanha, também, um caráter emotivo. “Nós moramos no planeta e fazemos parte dele. Não é só sobre ter, é sobre viver! As sobras e os resíduos agora já são considerados erros graves de design. Por isso, teremos um design emotivo, voltado a bens duráveis, que devem te acompanhar por toda a vida, guardando memórias e lembranças”, analisa a trend hunter. Acompanhe algumas peças que dialogam com as novas necessidades do consumidor.

Inverno 2021

No pós-pandemia, as peças tendem a refletir conforto, sensação de abraço, maciez, leveza, fortalecidos pelo período de home office, e até um sentimento de esperança e sede de se arrumar para sair de casa, com propostas coloridas e com brilho.

Cardigans oversized

Marni

Carregam a ideia de liberdade, movimento e proteção.

Warm e soft forms

Sapatos e botas também traduzem maciez e conforto. Destaque para as botas enrugadas que trazem a referência do abraço.

Balmain Fall 2020

Dressing Blanket

As mantas saem das camas e sofás para trazer todo o conforto do lar para as ruas.

Balmain Fall 2020

Slinky Dress

O maximalismo minimalista propõe vestidos longos, com tecidos leves e brilhantes para uma vibe festiva e, ao mesmo tempo, comfy.

David Koma Fall 2020

Patch power

As sobras e amostras são novas aliadas do design.

Viktor & Rolf

Flores oversized

A estamparia traz flores em dimensões maiores para reforçar o apelo pela esperançam e a busca por tempos felizes.

Collina Strada

Message prints

Mensagens estampadas em camisetas e jaquetas para alertar e relembrar valores.

Christian Siriano

Cores e tecidos

A conexão com a natureza é reforçada através dos tons alegres, tecidos e pedrarias. “A cartela de cores está cheia de energia e, ao mesmo tempo, calma, com destaque para os verdes, azuis e terrosos, que criam conexão com o planeta”. Nos materiais, tecidos naturais e produções feitas à mão entram em cena. “Vemos o a ganga, o linho 100% com trama mais fechada, o linho no fio tinto, os canelados, as telas com tramas abertas e trançados diferenciadas”.

A era da anti-tendência

Diante de um novo mundo, as pessoas passarão a se enxergar como responsáveis por seus atos. “Os produtos que prezam pelo meio ambiente serão fatores decisivos para a compra. Hoje em dia temos tecidos com muita qualidade que se decompõem em três anos. Vamos sair mais do que nunca responsáveis e humanos disso tudo. O instinto humano irá se sobrepor nas nossas ações. Finalmente assistiremos a era eco consistente”, finaliza Janaína.

Fonte: www.trend2.com.br