Por Bia Frata
Em um momento mundial em que a prioridade é a aquisição de itens de alimentação, higiene e saúde, fazer parte da indústria da moda constitui um grande desafio. Desde os primeiros estágios da pandemia, a indústria do luxo tem sido altamente sintonizada com a disseminação do Coronavírus, e suas implicações vigorosas para o setor.
As marcas de luxo sentiram os primeiros ruídos da tempestade quando o Covid-19 se espalhou pela China, país cujos cidadãos representaram 90% do crescimento global do mercado de luxo em 2019. Quando o vírus chegou à Itália, onde muitas marcas estão sediadas e têm fornecedores importantes, eles enfrentaram o desafio adicional de operar como possível em meio a um bloqueio nacional.
Na ânsia de continuarmos sendo relevantes e entender o espírito dos tempos para seguir fazendo moda de maneira inteligente, entende-se que o impacto da pandemia nas margens de vendas podem até cair este ano, mas as empresas de moda ainda podem emergir mais fortes, mais inovadoras e mais propositadas.
O mercado de luxo deve repensar o significado de ostentação para engajar de forma mais autêntica e profunda. As equipes de estilo têm pela frente o grande desafio de criar produtos que trazem uma lógica de consumo mais consciente e responsável, que incluem, por exemplo, rastrear quem está por trás da produção de tudo o que você usa.
O papel atual do designer é pensar como podemos mudar o mundo através de novas soluções criativas. Para além do medo, temos a sensação de que as pessoas estão em busca de algo que tenha um pouco mais de substância.
Ética e transparência na cadeia da moda, por práticas mais sustentáveis e mudanças de mentalidade e comportamento em todos os envolvidos, redefinem o significado do luxo.
Encontrar o equilíbrio entre ter mais clientes sem correr o risco de perder o glamour e o posicionamento anteriormente conquistados é um dos principais desafios atuais para as marcas de luxo.
Nessa busca, o luxo se fortalecerá em sintonia com a procura por um estilo de vida ligado à expressão criativa das tradições manuais, com o objetivo de conectar pessoas e preservar a cultura do handmade global.
O artesanato tradicional ressurge como item de desejo, com a curadoria de olhares treinados pelo universo da moda. Com refinamento estético e design arrojado, produzido em pequena escala, com técnicas milenares que transformam cada peça em uma obra única, repleta de história e tradição.
O toque rústico se sobressai, e domina todo tipo de roupas e acessório: brincos, sapatos, cintos e chapéus de materiais como palha, macramê, tricô, crochê e corda de alta qualidade com uma sofisticação feita a mão digna de couture, levando a mão de obra artesanal de altíssima qualidade para outro nível.
O feito a mão ganha cada vez mais voz, não só por ser um item de luxo caro e inacessível, mas por contar histórias reais, de mulheres e homens, por estar ligado a fazer moda de forma consciente, uma consciência que se prende não apenas com a forma como as matérias primas são desenvolvidas, mas também com a forma como a roupa é produzida e como é consumida. Um caminho que se faz de uma sustentabilidade ambiental, social e econômica.
Agora, um pouco mais situada, mas ainda cheia de dúvidas, fica uma certeza: nada será como antes.