A Semana de Moda de Nova York encerrou sua edição de outono/inverno 2025 nesta terça-feira (11) em um espetáculo de criatividade e protesto. Entre plumas, silhuetas marcantes e alfaiataria reinventada, estilistas transformaram as passarelas em um grito de resistência e esperança. Em um momento de transição política turbulenta, com os Estados Unidos sob a nova administração de Donald Trump e as marcas impactadas por desafios como a guerra comercial com a China e políticas anti-DEI (diversidade, equidade e inclusão), a moda voltou a se posicionar como um reflexo dos tempos e uma das principais formas de expressão.
A Resistência Criativa na Passarela
Diante desse cenário de incertezas, estilistas transformaram seus desfiles em espaços de manifestação e reunião comunitária. Christian Siriano, por exemplo, enfatizou a necessidade de manter viva a diversidade: “Precisamos de fantasia, de sonhos. Precisamos mostrar todas as cores e culturas que estão em Nova York”, declarou à CNN. A sua coleção celebrou a beleza em todas as formas, que incluiam modelos de diferentes idades, corpos e identidades de gênero.
Prabal Gurung, que em temporadas anteriores demonstrou esperança por um futuro político mais inclusivo, também reforçou essa ideia e trouxe para a passarela um olhar crítico sobre o presente, através de peças que mesclam suavidade e força.
Em meio às apresentações, não faltaram momentos teatrais que simbolizavam a luta por um mundo mais expressivo e livre. Thom Browne encheu ternos de silhuetas marcantes com pássaros fantásticos, enquanto Marc Jacobs, em um desfile realizado na Biblioteca Pública de Nova York, apresentou modelos como bonecas de silhuetas exageradas que remete às máscaras de tempos de incerteza.
A Retomada de Nomes Icônicos
A aguardada estreia de Veronica Leoni na Calvin Klein marcou o retorno da marca à NYFW após seis anos de hiato. Inspirada na essência minimalista da casa, Leoni apresentou um equilíbrio entre funcionalidade e sofisticação. “Eu realmente tentei explorar a beleza da forma mais autêntica, limpa, fresca e pura”, afirmou. A presença de supermodelos como Kate Moss e Christy Turlington reforçou o peso histórico do momento.
Enquanto isso, Christopher John Rogers fez seu retorno após cinco anos fora do calendário oficial e trouxe vestidos vibrantes em color block, reafirmando sua assinatura maximalista. “Não fomos imunes aos desafios recentes da indústria e somos gratos por estar aqui agora apresentando estes trabalhos”, declarou em nota.
Desafios e Ausências
Nem todos os grandes nomes marcaram presença. Proenza Schouler, Area e Helmut Lang ficaram fora do evento devido à saída de seus diretores criativos. Tommy Hilfiger e Ralph Lauren optaram por pular a temporada, enquanto outras marcas apresentaram suas coleções fora da cidade, como Willy Chavarria em Paris e Bode em Nova Orleans, durante o GQ Bowl.
Sergio Hudson levantou um ponto crítico sobre a falta de apoio a designers nos EUA: “Não acho que haja falta de talento. Acho que é falta de suporte. Há muitos designers excelentes nos Estados Unidos que são ignorados”. Seu desfile revisitou os códigos das roupas esportivas americanas com sofisticação e força visual.
A Moda como Protesto e Esperança
Hillary Taymour, da Collina Strada, levou uma mensagem direta para a passarela e vestiu suas modelos com óculos escuros de proteção e olhos esbugalhados. “Para esconder nossas lágrimas”, explicou. “A comunidade é tudo. Ame seus vizinhos, ame a todos. Direitos trans, proteja as mulheres, proteja a todos. Vai ser um momento muito difícil na sociedade, e vamos cuidar uns dos outros”.
Com um cenário político conturbado e o impacto das mudanças globais que ecoam na indústria, a moda reafirma sua força como expressão social e ferramenta de resistência. Para além de cortes, tecidos e paletas, as passarelas da NYFW FW25 trouxeram um chamado para a solidariedade, a diversidade e o futuro que se constrói.