Conexão Glam: quem se importa com moda?

Diante de um cenário pandêmico, há espaço para pensar e falar sobre ela?

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Pexels Disha Sheta / Imagem: Divulgação

Por Raíssa Zogbi*

Alguns dias atrás, fui questionada em um post que fiz em uma rede social sobre a importância da moda. Na verdade, não foi bem uma pergunta, mas um insulto irônico que, por mais mal educado que tenha soado, principalmente por ter sido comentado em uma publicação em que eu celebrava o lançamento de um curso de moda, me fez refletir. E nessa reflexão acabei por descobrir ainda mais motivos pelos quais todos deveriam se importar com a moda. E foi aí que qualquer vontade de responder com a mesma grosseria sumiu e tive vontade de compartilhar dados bastante relevantes, que possivelmente irão convencer (ou pelo menos fazer refletir) sobre os impactos dessa indústria no mundo.

Deixo aqui o convite para pensar a moda para além do “look do dia”. Vamos lá?

Sob o olhar econômico, estamos falando de um dos mercados que mais movimenta e gera empregos há 200 anos no país, isso sem contar no mundo. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (ABIT) divulgou dados gerais de 2020 e o setor têxtil é hoje o 2º maior empregador do Brasil, atrás apenas da indústria de alimentos e de bebidas (detalhe: juntas). Ou seja: são aproximadamente 1,5 milhão de empregados diretos e 8 milhões se adicionarmos os indiretos e efeito renda, dos quais 75% são de mão de obra feminina.

Imagem: Karina Tes

No olhar ambiental, e aqui cabe também o viés jornalístico para contribuir tanto para a conscientização das pessoas quanto para as denúncias, no mundo, o equivalente a um caminhão de lixo de têxteis é jogado em aterros sanitários ou queimados a cada segundo, de acordo com o relatório “A Economia Têxtil: Redesenhando o Futuro da Moda”, da Ellen Macarthur Foundation. Essa informação é (ou deveria ser) mais que suficiente para qualquer um pensar nos impactos da moda!

Aqui vale lembrar, também, de tantas iniciativas sustentáveis que tem surgido e que merecem incentivos e atenção. Hoje, por exemplo, já existem tecidos feitos a partir de resíduos de frutas, como abacaxi, maçã e laranja, que chegam como alternativa sustentável ao couro, já de acordo com as propostas de economia circular (cradle-to-cradle).

Se falarmos de sociedade, basta puxar na memória como as classes eram diferenciadas pela forma de se vestir, como forma de status social. A moda sempre acompanhou o contexto e diz muito sobre uma época. Inclusive, potencializou movimentos revolucionários e feministas com o surgimento da minissaia e até os biquínis.

Pexels Disha Sheta / Imagem: Divulgação

Além disso, o Brasil se mantém entre os cinco maiores países produtores de algodão, cujo cultivo emprega 7% da força de trabalho agrícola e movimenta US$ 12 bilhões por ano, segundo dados da ABRAPA.

Enfim, moda é muito mais sobre pessoas do que sobre roupa. E quando falamos em roupa, sabemos que ela começa muito antes do que na máquina de costura. Muitas vezes, começa no campo.  Falo com orgulho que sou jornalista de moda, mesmo diante do preconceito que ainda nos cerca. Seja pelo seu lado positivo ou por seus impactos negativos, a moda merece atenção!