“Cor Enquanto Metáfora”: verão 2019 da Louis Vuitton

A fantástica coleção masculina da marca

0
1118
ana vaz fala sobre verão 2019 da Louis Vuitton
ana vaz fala sobre verão 2019 da Louis Vuitton
ana vaz fala sobre verão 2019 da Louis Vuitton
             @anavaz_imagem

Por Ana Vaz                                                                                                                                  

Eu falo pouco sobre moda masculina por aqui, talvez você até estranhe que eu toque neste assunto, mas é impossível não falar desta coleção já icônica de uma das mais tradicionais marcas de luxo e moda do planeta. A moda espelha comportamento. Nela vemos nossa sociedade refletida, seus altos e baixos inclusive. Na coleção da Vuitton, vemos muitos altos e quero falar de todos eles aqui, pois estão e estarão refletidos em outras coleções da própria marca, inclusive as femininas, e também nas coleções de outras marcas de moda. Ela fala de diversidade, união e aceitação.

ana vaz fala sobre verão 2019 da Louis Vuitton

O desfile marcou a estreia de Virgil Abloh como o primeiro diretor criativo negro da maison. Num mundo em que a diversidade se estabelece como um conceito necessário e bem-vindo a qualquer negócio, a decisão da Vuitton em trazer esse jovem – que não tem formação em moda, mas sim em engenharia e arquitetura – foi, na minha opinião, acertadíssima. Americano, começou na moda como estagiário da Fendi em 2009 (ao lado do rapper Kanye West, com quem fez várias colaborações). Tornou-se empreendedor em 2013, quando fundou sua marca de streetwear, a Off-White, em Milão. Abloh tem uma experiência profissional rica e diversa. Vale destacar a colaboração com a Nike em 2017, na qual redesenhou os 10 modelos de tênis mais vendidos da marca; e a colaboração com a gigante sueca Ikea, que fabrica móveis e objetos de decoração. Toda sua experiência e seu perfil jovem e moderno fizeram bem à Louis Vuitton. A coleção desfilada há pouco mais de um mês tirou o fôlego de muita gente e recebeu críticas excelentes.

Estão na coleção, desde a alfaiataria mais bem cortada da marca, às roupas e acessórios com apelo street, bem esportivo e jovem. O uso inteligente das cores tornou a coleção extremamente memorável e descolada. “Cor enquanto metáfora.”, postou a Louis Vuitton em seu Instagram antes do desfile. Metáfora perfeita! A passarela era um arco-íris – assim como a coleção e o casting  negros, asiáticos, brancos, diversidade a todo vapor.

O look de abertura todo em branco (vestido num modelo negro) simbolizava a primeira inspiração de Abloh para a coleção: luz branca atingindo um prisma e se dividindo nas diversas cores que a compõem. Um batalhão de modelos coloridos tomou conta da passarela vestindo a coleção que o designer batizou de “We are the World” – lembra do single de Michael Jackson e Lionel Richie lançado em 85 para ajudar a combater a fome na Etiópia?! Aqui ele foi usado para combater o preconceito, para reforçar a ideia de inclusão. Lindo de se ver. Roupas e acessórios incríveis, honrando todo o apreço da marca pela qualidade absoluta (e seu peso no mercado de luxo), bem como seu atual posicionamento jovem – aliás, vale dizer que a marca tem na colaboração com a Supreme, algumas coleções atrás, um divisor de águas em seu estilo e posicionamento.

Abloh usou, ainda, o Mágico de Oz como uma indicação (doce e surpreendente, diga-se de passagem) do novo caminho a seguir. Do moletom desfilado no penúltimo look com estampa do quarteto do filme na famosa estrada dos tijolos amarelos, passando pelo poncho prateado com os dizeres “Follow the yelow brick” (para encerrar o desfile), à estampa da estrada de tijolos nas costas da camiseta que o próprio Abloh vestiu para subir à passarela, tudo indica que mais do que um novo caminho, esse é um caminho sem volta – para a marca e para a moda. É a moda cada vez mais inclusiva. Não podemos mais trilhar o caminho da intolerância, não podemos mais confundir exclusividade com exclusão.

E para resumir em cores e forma o que se viu: alfaiataria sequinha, alfaiataria solta e desestruturada bem anos 90, maximoletons, calças bem largas no melhor estilo hip-hop; vários tons de branco e menta bem clarinho; prata furta-cor; e em tons intensos a presença importante do vermelho, do lima, do roxo, do azul e do laranja. Uma coleção jovem e sofisticada, que vai agradar a velhos e novos clientes da marca e vai com certeza inspirar muitas outras marcas mundo a fora.