A London Fashion Week da temporada Verão 2026 trouxe uma pluralidade impressionante de ideias, de surrealismo bordado à moda esportiva prática, mostrando como os criadores seguem experimentando com identidade, textura, tradição e utilidade. Aqui estão alguns dos desfiles que mais chamaram atenção, e o que representam para o futuro da moda.
Surrealismo reimaginado e alma poética
Erdem foi uma das marcas que mais mergulhou fundo no surrealismo. Sob inspiração de Hélène Smith, artista surrealista pouco conhecida, a coleção misturou bordados com pétalas, vestidos de coquetel com corpete duro de tule, bustiês moldados e rendas delicadas. Elementos de teatro, referências históricas como Versalhes e tecidos com bordados fluorescentes (!) mostraram um equilíbrio entre o clássico e o fantástico.
Simone Rocha seguiu um caminho igualmente dramático, mas com doçura. Em uma coleção longa, com 52 looks, ela combinou crinolinas de organza bordadas, organzas semi-transparentes, gabardinas plásticas transparentes, vestidos trapézio oversized e até soutiens de lantejoulas sob saias. A ideia de “debutantes descontentes” surge como metáfora de jovem mulher presa a expectativas externas, rompendo-as através do vestido.
Alfaiataria, tradição e brasilidades do corte
Patrick McDowell apresentou alfaiataria precisa, silhuetas limpas, homenagem às raízes pessoais (sua avó, a região norte da Inglaterra) e muito uso de tecidos sustentáveis. É uma visão de luxo moderno que reconhece tradição sem ser prisioneiro dela.
Yuhan Wang misturou matérias rígidas e suaves, cortes arquitetônicos com drapeados fluidos, contrastes fortes entre estruturas de armadura e tecidos leves com estampas, numa proposta que fala de proteção, feminilidade e identidade fragmentada.
Dramas nupciais, teatralidade e experimentação emocional
Richard Quinn colocou teatro e glamour em primeiro plano. Seu desfile começou com nada menos do que Naomi Campbell entrando ao som de orquestra, apresentando vestidos de veludo, laços dramáticos, camélias brancas e muitas flores oversized. Mood nupcial e teatral, mas com tempero rebelde, clássico misturado com paixão intensa (cores como preto e vermelho vibrante).
Pauline DuJancourt trouxe uma coleção marcada pela emoção do luto, inspiração em Tchekhov, com vestidos que pareciam flutuar, drapeados que evocam asas de pássaro, tricôs delicados e crochê artesanal. A coleção foi uma ode à fragilidade, mas também à beleza que emerge da perda.
Moda utilitária, esportiva e a mulher em movimento
Johanna Parv foi destaque nessa linha com uma coleção que mescla desporto e elegância urbana. Tecidos tecnológicos, cortantes diagonais, roupas gonadas ideais tanto para cyclismo como para ambientes profissionais. Coletes e casacos multifuncionais, action bags híbridas, tudo pensado para o corpo ativo, para mulher que se move entre diferentes ritmos do dia.
Kent & Curwen apostou também em mesclar tradição, linho, jacquards, identidade britânica dos três leões, com inovação: mistura de tecidos leves e tecnológicos, cores gráficas fortes até roupas que remetem ao rugby ou à moda outdoor. O desfile usou projeções de parques londrinos, reforçando o vínculo com o local, com uma estética que cuida do heritage sem deixar de ser atual.
O que essas coleções indicam para o panorama da moda
A LFW Verão 2026 está mostrando que o futuro da moda tem espaço para o maximalismo emocional e o romance de bordado, mas também para funcionais utilitarismos, roupa que se move com quem veste. Há um diálogo forte entre drama e praticidade, entre tradição e inovação, entre a identidade pessoal e o universal.
Para o mercado e consumo, isso significa que peças statement, bordadas, volumosas, emotivas, convivem lado a lado com apostas esportivas, cortes versáteis, híbridos que servem tão bem ao café quanto ao escritório ou à estrada. O toque artesanal permanece valorizado, mas acompanhado por tecnologia de tecidos, adaptação ao uso real, e consciência estética.