Pyer Moss, um nome para guardar

Nem só de Guccis e Pradas vive a moda inteligente

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Por Ana Vaz

Ana Vaz
                  @anavaz_imagem

 

No dia 6 de novembro de 2018, a marca Pyer Moss recebeu o cobiçado prêmio de US$ 400 mil dólares da CFDA/Vogue Fashion Fund. O Conselho Americano de Moda criou a premiação em 2003 para ajudar jovens talentos da moda em sua trajetória rumo ao sucesso e ao crescimento. Nomes como Alexander Wang e Proenza Schoule, hoje relevantes no mercado de moda americano, estão entre ganhadores de outros anos. Em 2018 a marca do designer Kerby Jean-Raymond foi a contemplada – com todo o merecimento diga-se de passagem.

Caso você nunca tenha ouvido falar, não se preocupe, eu lhe conto aqui um pouco da história da grife. A Pyer Moss existe há 5 anos e é uma marca negra de moda. Feita por e pensada para negros, exatamente como faz questão de frisar seu criador e designer, a marca (como outras com o mesmo posicionamento) sofre (ou sofria) com um alto grau de invisibilidade. Sensível, lúcida, forte e questionados, a marca tem trilhado o sucesso e hoje tem parceiros de peso como a Reebok, para quem já assinou duas coleções.

Engajado, @Kerbito (vele segui-lo no instagram) tem trazido para suas coleções, desfiladas na NYFW, referências e homenagens a marcas negras importantes e tradicionais, fortemente atuantes, mas também fortemente negligenciadas pela mídia. Na temporada de fevereiro deste ano, a escolhida foi a Cross Colours, que na década de 90 tinha o mesmo faturamento anual (R$280 milhões) que marcas como Dona Karan e Calvin Klein – sim! Na temporada de setembro a escolhida foi a Fur Us By Us, outra importante marca negra.

Para conhecer um pouco mais do trabalho lindo da Pyer Moss, vale falar sobre a coleção desfilada na última edição da NYFW, que foi eleita uma das 10 melhores pela Vogue América. “Simplesmente pessoas negras fazendo coisas normais”. Esse é o pensamento que orientou a concepção da coleção. O designer imaginou o mundo para os negros sem o racismo, imaginou como seria seguro esse mundo, e como todos poderiam fazer coisas banais sem o medo cotidiano de, por exemplo, terem a vida interrompida (muitas vezes literalmente) por uma abordagem policial – interrupção essa na maioria das vezes motivada por nada mais do que estereotipagem e preconceito.

Em entrevista à Vogue, o designer disse que a ideia veio ao ler o manual The Negro Motorist Green Book, um guia de viagem publicado a partir da década de 30 que indicava hotéis e restaurantes seguros (ou não!) para as famílias em viagem. “Imagine como seria a vida para os negros sem as constantes ameaças vindas do racismo?!” O estilista escolheu cores e formas que representaram essa sensação mista de alegria, alívio e normalidade. Os looks são casuais, despojados, fluidos, gostosos e fáceis de usar, ao mesmo tempo em que são sensuais e, sim, elegantes. Encomendou cenas cotidianas, leves, “normais” e descomplicadas ao artista Derrick Adams, e as transformou em estampas (sensacionais!) de suas peças. A coleção ficou forte e tocante. Confira as imagens:

Querida leitora, se você ainda não conhece a Pyer Moss, não espere mais! Vale conferir e se inspirar – em sua história e na qualidade da sua moda.