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YU: Como nipo-brasileiros mesclam sua ancestralidade japonesa na moda nacional

31 de julho de 2024

#Desfiles

By: Redação

Não está no imaginário coletivo um jovem descendente de japoneses crescendo no interior da Bahia, e muitas vezes isso nem esteve no meu próprio imaginário. Eu, YU, me desenvolvi sem contato com minha família nipônica, e foi na moda e na criatividade que encontrei uma forma de expressar minha identidade e buscar pertencimento.

Meu primeiro desenrolar criativo ocorreu aos cinco anos, quando fui presenteado com um livro de origamis – todo em japonês. Em poucos dias, espalhei mais de cem origamis por toda a casa. A brincadeira terminou quando minha tia jogou todos fora, mas a diversão se transformou em arte, a arte virou trabalho, e os origamis foram substituídos pela moda, que me influenciou no resgate ancestral e na busca por pertencimento.

A moda japonesa sempre teve um impacto global, e recentemente a estética brasileira vem ganhando cada vez mais espaço no mercado internacional, e a intersecção cultural é uma realidade que me inspira constantemente. Issey Miyake foi dos primeiros designers que me despertou atenção, pioneiro na técnica de plissagem. Vejo seu trabalho e me lembro de quando criança, fazendo roupas com papel enquanto minha avó tomava café no copo americano.

Como muitos outros criativos nipo-brasileiros, atuo em diversas áreas, sempre relacionando tudo o que faço à moda e à estética. Já fui modelo, ilustrador, fotógrafo, produtor de conteúdo e, mais recentemente, fashion designer. Eu me vejo como um artista visual. Tudo para mim volta à estética. Gosto de relacionar e criar conexões entre todas as coisas que crio. Ao mergulhar em meu processo criativo, é notório como minhas criações permeiam minha vida como um universo próprio, presentes nas minhas ilustrações, fotos, estilo e lifestyle.

A cultura japonesa tem uma rica tradição em moda, desde os quimonos intrincados até as vanguardas do street style de Harajuku. Designers como Yohji Yamamoto, Rei Kawakubo e Kenzo Takada pavimentaram o caminho para que a estética japonesa se tornasse uma referência mundial. A influência deles pode ser vista em meu trabalho e na obra de muitos outros designers nipo-brasileiros que buscam combinar a precisão e o minimalismo japonês com a exuberância e a diversidade da moda brasileira.

Após dois anos costurando, entrei em meu primeiro grande desafio: criar dois looks para o SPFW N58. Um dos looks irá para exposição, enquanto o outro será apresentado no desfile conjunto com o Cria Costura, um projeto de aceleração criativa para emergentes. Este é o primeiro momento em que poderemos ver minha leitura particular, uma intersecção cultural que mergulha em identidade, pertencimento e estética.

A moda tem sido minha ponte para a ancestralidade. Cada peça que crio é uma homenagem às minhas raízes e uma celebração da diversidade cultural que molda o Brasil. A moda nipo-brasileira não é apenas sobre roupas; é sobre ancestralidade, contar histórias, e criar novos caminhos. É sobre encontrar um lugar de pertencimento em um mundo que muitas vezes não entende a complexidade de identidades biculturais.

As diversas influências e entrelaçamentos culturais têm um papel crucial na identidade nipônica. Personalidades conscientes e criativas criam e preservam eventos como o Festival do Japão em São Paulo e a Festa da Colônia Japonesa em Salvador, que são momentos de preservação e reconexão, onde a moda também encontra seu espaço. Cada desfile, cada coleção é uma oportunidade de mostrar ao mundo a beleza e a riqueza dessa intersecção cultural.

Em resumo, ser um criativo nipo-brasileiro na moda brasileira é um exercício constante de equilíbrio entre o passado e o presente, entre o Japão e o Brasil. É uma jornada de autodescoberta e expressão, onde cada peça é um pedaço da minha história e da história de muitos outros como eu.

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