Enquanto inúmeras mulheres formam-se em moda, representando cerca de 74% dos estudantes em cursos ao redor do mundo, elas somam apenas 12% dos cargos de direção criativa nas grandes maisons de luxo. Mesmo casas historicamente femininas, como Chanel e Dior, tendem a ser lideradas por homens, a despeito de marcos como Maria Grazia Chiuri, que foi a primeira mulher no cargo criativo da Dior em quase oito décadas.
Teto de vidro na alta-costura
Os postos de CEO, diretor criativo e presidente de conselho ainda são dominados por homens brancos, reflexo de um setor que dificilmente descola do visual que ele mesmo projeta: corporativo, homogêneo e calculista. Das 30 principais grifes avaliadas, apenas oito têm mulheres à frente das criações, e somente uma delas é não branca. Programas de mentorias e políticas internas promissoras ainda não surtiram efeito no topo das estruturas.
O efeito da monocultura criativa
Com cargos-chave ocupados majoritariamente por homens, o formato da moda tende a ser filtrado por um olhar limitado, o chamado “male gaze”. Pesquisadores apontam que isso empobrece o repertório estético da moda feminina, pois corações e mentes são guiados muito mais por fantasia, poder ou nostalgia do que por vivência real.
As exceções falam por muitas
Miuccia Prada, Stella McCartney, Maria Grazia Chiuri, Donatella Versace, Vivienne Westwood e Rei Kawakubo representam exceções que desafiaram a lógica masculina. Ainda assim, são exceções, não a regra. A mudança estrutural também passa por permitir falhas e revisões: “Até que diversas mulheres possam falhar e tentar de novo sem serem símbolos, a paridade será um ideal inalcançável” .
Rumo a um cenário mais plural
O avanço da equidade depende de coragem institucional para diversificar nomeações e não só cumprir cotas. Sem isso, continuarão surgindo vozes femininas, com experiências reais, mas sem estrutura para chegar ao topo. Como apontam especialistas, manter o monocultivo de ideias limita a moda como narrativa cultural, e priva o futuro do setor de referências autênticas, inovadoras e plurais .
A moda feminina segue sendo definida, em sua maioria, por homens, em uma indústria que se diz voltada para mulheres. O desafio hoje é desconstruir essa lógica de escolha por semelhança e risco mínimo. O verdadeiro luxo estará sempre alinhado à pluralidade, e à coragem de abrir espaço para que histórias femininas sejam contadas por quem viveu cada uma delas.