Em um cenário em que a moda fitness é frequentemente associada a peças justas, curtas e que expõe o corpo, um novo movimento ganha força e ressignifica o conceito de vestuário esportivo: o das roupas fitness muçulmanas. Mulheres muçulmanas ao redor do mundo, inclusive no Brasil, têm desafiado os padrões dominantes ao criar e adotar alternativas que aliam desempenho, conforto e elegância sem abrir mão das suas crenças e práticas culturais. Mais do que uma questão de estilo, essa nova estética é um reflexo de identidade, pertencimento e autonomia e começa a ganhar destaque também no universo fashion, que aos poucos se abre para narrativas plurais.
Uma estética que respeita cultura e movimento
A moda fitness tradicional, dominada por leggings justas, tops curtos e tecido colado ao corpo, nem sempre atende às necessidades de mulheres muçulmanas que preferem manter a cobertura que sua fé sugere. O resultado desse desalinhamento foi o surgimento de uma estética chamada modest activewear, que alia conforto, função e elegância com respeito cultural.
A influenciadora Carima Orra, brasileira de origem libanesa, foi pioneira ao levar a conversa sobre moda fitness modesta para as redes sociais. Ao frequentar academias, ela percebeu que roupas tradicionais para mulheres muçulmanas não satisfaziam as exigências de ventilação, leveza e cobertura. Isso a levou a lançar, em abril de 2025, a marca Doha Modestwear, especializada em tecidos tecnológicos que absorvem suor, mantêm o frescor e protegem do sol, sem comprometer o estilo.
Hijab e funcionalidade em primeiro lugar
A inovação vai além das roupas: Carima ainda criou um hijab esportivo, com design adequado à prática esportiva — leve, fixo e confortável durante a corrida. Foi uma antecipação de necessidade: o hijab tradicional se deslocava com o movimento, exigindo ajustes constantes.
Mariam Chami, outra influenciadora muçulmana, travou uma batalha contra o preconceito camuflado de preocupação: “Como você aguenta o calor?”, lhe perguntaram. Sua resposta? Seria desconforto ou o simples desqualificar das escolhas culturais? Criou a série “Meu Hijab não me limita”, exibindo-se em crossfit, boxe e beach tennis.
A união da fé com a atividade física
A revolução não está limitada ao Brasil. Grandes nomes do esporte e moda se uniram. Nike lançou seu Pro Hijab em 2017 e, depois, foi além, criou hijabs competitivos, burkinis e linhas fitness para mulheres muçulmanas. Adidas e Puma seguiram o mesmo caminho, explorando hidrafashion e loungewear com tecidos respiráveis e design inclusivo.
Além disso, marcas independentes como Imaan Active e UNDER-RAPT unem moda, performance e valores religiosos em linhas que vão do simples tracksuit até abayas esportivas com capuz e bolsos úteis.
Por que esse movimento é moda de verdade?
Este movimento tem feito a ponte entre athleisure (roupas esportivas usadas no dia a dia) e modest fashion (moda que prioriza a cobertura). O resultado é funcional, confortável e sofisticado, com mangas longas, tecidos anti odor, cortes amplos e soluções que respeitam a organização do corpo e as escolhas religiosas.
Impacto profundo e futuro inclusivo
O mercado modesto de moda esportiva tem valor estimado de US$ 313 bilhões em 2022 e deve chegar a US$ 375 bi até 2025. Mas o maior impacto é emocional: oferece às mulheres muçulmanas a liberdade de treinar sem abrir mão de suas crenças, um gesto de pertencimento, poder e estética.
O boom das roupas fitness muçulmanas mostra que a moda contemporânea não é apenas sobre tendências, é sobre inclusão. Mulheres que antes precisavam fazer adaptações caseiras agora têm peças profissionalmente pensadas para elas. É o casamento entre identidade cultural e inovação têxtil, onde conforto, fé e elegância se encontram no mesmo look, sem concessões.
E se a moda está prestes a definir o nosso tempo, ela já começa por garantir que todas possam suavemente, mas com força, seguir o seu ritmo.