A liderança feminina na moda de luxo: o impacto da saída de Maria Grazia Chiuri da maison Dior

3 de junho de 2025

#Cultura de Moda

By: Redação

A Dior anunciou oficialmente Jonathan Anderson como o novo diretor criativo da maison, marcando uma nova era para a marca e encerrando o ciclo de quase uma década de Maria Grazia Chiuri à frente da direção criativa feminina da grife. Anderson, fundador da JW Anderson e atual diretor criativo da Loewe, assume o desafio de dar continuidade ao legado de uma das casas mais emblemáticas da alta-costura parisiense — e de fazê-lo após uma das passagens mais politicamente significativas da história recente da Dior.

Maria Grazia Chiuri foi a primeira mulher a comandar a direção criativa da linha feminina da Dior desde sua fundação em 1946. Sua trajetória foi marcada não apenas por coleções que exaltavam a feminilidade em suas múltiplas formas, mas também por mensagens diretas sobre empoderamento feminino, inclusão e os direitos das mulheres. De camisetas com frases feministas a colaborações com artistas e artesãs ao redor do mundo, Chiuri levou às passarelas o discurso político de forma sensível e potente.

Com sua saída após o desfile do Cruise 2026, apresentado nesta semana, a moda perde temporariamente uma de suas únicas vozes femininas em posição de liderança dentro das grandes maisons de luxo.

O domínio masculino nas cadeiras de poder da moda e seus impactos na criação para mulheres

A chegada de Jonathan Anderson à Dior levanta um debate urgente sobre a hegemonia masculina nas cadeiras de direção criativa das principais casas de moda. Com a saída de Chiuri, o cenário atual revela uma concentração de homens à frente de marcas historicamente dedicadas ao vestuário feminino: Anthony Vaccarello na Saint Laurent, Pierpaolo Piccioli (até sua recente saída) na Valentino, Hedi Slimane na Celine, Matthew M. Williams (também recém-saído) na Givenchy, entre outros.

Embora o talento de Anderson seja inegável — conhecido por seu trabalho inovador e sensível à desconstrução de gênero na Loewe —, sua nomeação reacende um questionamento: como os homens ainda ocupam majoritariamente os postos de criação de roupas para mulheres em uma indústria que, em teoria, deveria representá-las?

Quando mulheres criam para mulheres, como foi o caso de Maria Grazia, há uma camada de empatia e vivência que transparece nas coleções. Seu trabalho buscava fugir dos arquétipos limitantes da sensualidade feminina, propondo vestes confortáveis, simbólicas e muitas vezes narrativas. Ao abrir mão de uma presença feminina na liderança, a Dior (e a indústria como um todo) precisa estar ciente dos riscos de silenciar essas perspectivas que vêm da vivência, não apenas da observação.

Foto: Pinterest.

No último ano, a indústria da moda de luxo passou por uma verdadeira “dança das cadeiras”, em que diversos diretores criativos renunciaram seus cargos e migraram para outras maisons. Mas, o movimento ainda representou uma liderança majoritariamente masculina, sendo a única exceção Veronica Leoni, anunciada no final do ano passado como diretora criativa de Calvin Klein.

Em um momento em que o discurso da moda busca alinhamento com valores de inclusão, a substituição de Maria Grazia Chiuri por Jonathan Anderson na Dior reacende um debate urgente: mais do que talento, é preciso garantir espaço para que mulheres e identidades diversas também possam narrar, vestir e transformar os corpos por meio da moda.

Uma nova direção da maison e novas expectativas

Foto: Pinterest.

Jonathan Anderson, por sua vez, chega à Dior com grandes expectativas. Seu trabalho na Loewe é amplamente celebrado por sua abordagem conceitual e pela capacidade de criar peças com profundidade artística e apelo comercial. A escolha da maison sugere um desejo de reposicionamento criativo, com foco na inovação estética e no diálogo entre o artesanal e o contemporâneo.

Ainda assim, o legado de Maria Grazia permanecerá como um divisor de águas na maison e na história da moda de luxo. Ela não apenas criou coleções marcantes — como o desfile da Dior no Templo de Poseidon, na Grécia, ou as apresentações em museus e palácios ao redor do mundo — como também tornou sua presença uma bandeira em si. Sua atuação ampliou o debate sobre o papel da mulher na moda e sobre quem realmente deve ocupar os bastidores de poder.

A maison Dior entra agora em uma nova fase, e o mundo da moda observa com atenção. Se, por um lado, a expectativa em torno da visão criativa de Anderson é alta, por outro, fica o desejo de que as discussões políticas, sociais e culturais levantadas por Chiuri não desapareçam com sua saída — mas que se transformem, evoluam e encontrem novos caminhos, inclusive com mais mulheres ocupando as decisões que definem o que é a moda hoje.

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