Em tempos de redes sociais aceleradas e tendências passageiras, uma febre aparentemente simples conquistou o coração da geração Z e dos amantes de lifestyle: os livros de pintura de Bobbie Goods. Com traços delicados, cores suaves e ilustrações que lembram um mundo de conforto, nostalgia e sonho, a artista norte-americana transformou o ato de pintar, algo tradicionalmente associado à infância, em um manifesto de criatividade, autocuidado e autenticidade. Mas o que isso tem a ver com moda? A resposta está no novo zeitgeist.

O livro que virou tela e símbolo de criatividade

Criados por Abbie Goveia, os livros de pintura viralizaram nas redes sociais por proporem uma atividade lúdica e artesanal em meio à era dos filtros e edições. Diferente de um conteúdo pronto ou de consumo automático, os livros Bobbie Goods são moldáveis: cada pessoa colore de maneira única, cria atmosferas próprias e expressa sentimentos com pincéis, canetinhas e lápis de cor. E é justamente aí que está o ponto de contato com a moda atual: o retorno ao processo criativo manual, ao toque da mão, à experiência sensorial e à expressão autêntica.

Na moda contemporânea, tem sido reiterado a valorização crescente do gesto criativo. Em vez de seguir tendências exatas, marcas e consumidores estão em busca de narrativas pessoais, do vestir como manifesto de quem se é. Grifes como Collina Strada, Eckhaus Latta e até grandes maisons como Dior e Gucci têm apostado em peças que parecem pintadas à mão, customizações, colagens e bordados que evocam o artesanal e o propósito, o mesmo espírito que pulsa nos livros de Bobbie.

Assim como os usuários do livro aplicam cores diferentes sobre um mesmo desenho, a moda de hoje convida o consumidor a vestir as tendências com sua própria assinatura. O que antes era um desfile de “looks corretos”, agora se abre para a mistura espontânea, para os itens afetivos e para o erro proposital, quase infantil, como forma de autenticidade. A criatividade virou o novo luxo e quanto mais pessoal e imperfeita, melhor.

Estímulo à autenticidade num tempo de cópias

A popularidade dos livros de pintura também evidencia um cansaço coletivo com a homogeneidade visual das redes sociais. Em meio a tantos conteúdos iguais e poses repetidas, a possibilidade de criar algo próprio, traz um senso de liberdade que ressoa diretamente no vestir. E por isso surgiram inúmeras peças pintadas à mão, tênis personalizados, broches artesanais e acessórios feitos sob encomenda.

Essa busca por diferenciação, mesmo dentro de um “livro com moldes”, mostra que a liberdade criativa está nos detalhes e não nas grandes rupturas. A moda de hoje permite que cada um seja seu próprio estilista, e o sucesso de Bobbie Goods nos lembra que há beleza na repetição com alma, na escolha da paleta que faz sentido para você.

Mais do que uma tendência, os livros de pintura Bobbie Goods se tornaram um reflexo cultural do tempo atual, em que desacelerar, colocar a mão na massa e criar algo único é um ato revolucionário. E na moda, isso se traduz em coleções que convidam à experimentação, em desfiles com peças personalizadas, em roupas que mais parecem obras de arte para vestir, não para seguir, mas para reinterpretar através de seu propósito.