Dior Cruise 2026: Uma Oda à Roma e à Herança Cultural Italiana

28 de maio de 2025

#Desfiles

By: Redação

No dia 27 de maio de 2025, a Dior transformou os jardins da Villa Albani Torlonia, em Roma, em um palco onde moda, arte, história e identidade cultural se entrelaçaram. A apresentação da coleção Cruise 2026, assinada por Maria Grazia Chiuri, foi mais do que um desfile de moda: foi uma celebração da herança italiana sob uma lente contemporânea, sensível e comprometida com a valorização das raízes femininas na história da arte e da vestimenta.

A escolha do cenário não poderia ser mais simbólica. A Villa Albani Torlonia, local pouco acessível ao público, abriga uma coleção de antiguidades que remete ao espírito do Grand Tour europeu, às origens do classicismo e à Roma que inspirou séculos de estética. Ao apresentar a coleção nesse espaço histórico, Maria Grazia prestou uma homenagem pessoal à sua cidade natal, mas também convocou o público global da Dior a mergulhar na essência do passado como forma de projetar o futuro.

Uma coleção entre o real e o onírico

A Cruise 2026 dá continuidade à narrativa iniciada no inverno 2025, quando a Dior revisitou a evolução da indumentária feminina em uma linha cronológica. No entanto, a proposta agora é mais fluida e híbrida. A estilista funde diferentes tempos e estilos em uma linguagem visual única. Se antes havia uma lógica histórica, aqui o que se vê é uma justaposição ousada entre realidade e fantasia, entre o prêt-à-porter e a alta-costura, costurando memórias e desejos em um mesmo tecido.

Maria Grazia cria uma intersecção entre códigos do vestuário masculino — fraques, coletes, jaquetas militares — e silhuetas tradicionalmente femininas, como as saias longas e os vestidos leves em renda ou tule. Em muitos momentos, peças como capas e blusas lembram trajes clericais, misturando referências eclesiásticas com uma alfaiataria precisa. Há uma reverência à Roma clássica nos plissados e drapeados, evocando estátuas antigas, e ao mesmo tempo uma alusão ao cinema da La Dolce Vita, com o uso de veludos e transparências, que remetem ao glamour de Anita Ekberg.

A força da alta-costura na coleção Cruise

Apesar de ser uma coleção resort, a presença da alta-costura foi marcante. Tecidos nobres, bordados minuciosos e construções sofisticadas tomaram conta da passarela. Os vestidos fluidos, rendados e bordados, remetem à estética consagrada por Maria Grazia em temporadas anteriores: femininos, mas potentes; etéreos, mas politizados. Alguns deles vinham com vendas nos olhos, uma assinatura simbólica que remete à introspecção, à sensibilidade feminina e ao silêncio forçado que muitas mulheres enfrentaram na história — agora desafiado pelas criações da diretora.

Também foi possível identificar ecos de clássicos da Dior, como o modelo Junon (1949), reinterpretado em formas e texturas que dialogam com o presente. As camadas em pétala, um ícone da marca, surgem reimaginadas em materiais mais leves, sempre equilibrando peso histórico com fluidez contemporânea.

A inspiração em Mimi Pecci-Blunt

Um dos tributos mais refinados do desfile foi à condessa Anna Laetitia Pecci-Blunt, conhecida como Mimi, mecenas das artes e figura influente da sociedade europeia do início do século XX. Em 1930, Mimi organizou o lendário Bal Blanc, baile em que todos os convidados trajavam branco. A Dior reinterpretou esse código visual para o desfile: homens de preto, mulheres de branco, evocando uma estética dramática, sofisticada e espiritualizada.

Essa inspiração apareceu também na performance dos dançarinos que abriram o desfile. Vestidos de branco, eles se movimentavam como personagens da Commedia dell’Arte, com gestos teatrais e coreografias que uniam balé contemporâneo a tradições cênicas italianas. A ideia, segundo Chiuri, era trazer à tona o conceito de “máscara social” e a relação entre corpo e roupa, tão presente na história da moda.

Dior, moda e memória

Com a Dior Cruise 2026, Maria Grazia Chiuri reforça seu papel como uma das estilistas mais intelectuais da atualidade, comprometida com uma moda que vai além da estética: ela resgata personagens esquecidas da história, valoriza as artes manuais e desafia os padrões de gênero e poder estabelecidos ao longo dos séculos.

Mais do que uma coleção, a apresentação em Roma foi uma experiência sensorial e cultural, um convite à contemplação e ao questionamento. Afinal, como diz a própria estilista: “A moda é uma linguagem que comunica valores. E esses valores estão enraizados na história, no território e nas pessoas.”

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