Entrevista: Professor João Braga explica relação entre moda e contemporaneidade

Em bate-papo exclusivo com a Z Magazine, Professor conta sobre o lançamento da 11ª edição de seu livro e como a moda dialoga com o contexto vivido pela sociedade

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Membro da Academia Brasileira de Moda (cadeira 39), autor, estilista, palestrante, curador, articulista e professor de História da Moda, João Braga compartilha e busca conhecimento incansavelmente.

Foto João Braga: Fernando Silveira (FAAP)

Não à toa, está no lançamento da 11ª edição de História da Moda: Uma Narrativa, que se tornou o livro didático de moda mais adotado e mais vendido do Brasil e ganha novos capítulos e atualizações para acompanhar a movimentação infindável da moda. “O livro foi lançado pela primeira vez em 2004. Era um curso livre online transformado em livro, que foi super aceito no mercado”, conta João.

Com lançamento marcado para amanhã, dia 8 de março, no Centro de Convenções da FAAP, o livro conta com novo capítulo sobre a história do jeans e complementações sobre a evolução da moda. “A principal característica da moda é a mudança. E com tantas movimentações no mundo e na moda, especialmente com a pandemia, senti necessidade de uma atualização. Então essa edição é revista, atualizada e ampliada”, explica.

Com 128 páginas, o lançamento ocorre no dia 8 de março nas livrarias e já pode ser comprado no site www.dlivros.com.br

 

“Este livro, usado especialmente por estudantes de moda em todo o território nacional, me propiciou refletir, nesta nova edição, sobre uma outra realidade da moda internacional que é o jeans e também ressaltar a importância deste segmento no processo criativo e no setor econômico do Brasil, pelo viés da moda” – João Braga

 

Em entrevista exclusiva para a Z Magazine, João Braga explica detalhes sobre o livro e as relações entre moda e sociedade. Acompanhe!

 

– Essa é a 11ª edição do livro. Conte um pouco sobre a proposta!

As edições foram feitas até a 9ª edição pela Anhembi Morumbi. Depois que ela fechou, o editor que já tinha uma editora, quis continuar e fez a 10ª edição. As edições sempre esgotaram muito rápido. Ele se tornou, segundo a imprensa, o livro didático de moda mais adotado e vendido no Brasil. Na 11ª edição, solicitei o patrocínio da Santista Jeanswear e eles aceitaram, para investir nos estudos, nos jovens e no acesso à cultura de moda dos seus futuros clientes.

Todas as edições, eu sempre atualizei. Com tantas movimentações no mundo e na moda, especialmente com a pandemia, senti necessidade de uma atualização. Então essa edição é revista, atualizada e ampliada. Quando eu pedi o patrocínio da Santista, eu me comprometi a incluir um capítulo sobre a história do Jeans, dentro da identidade e dos padrões do livro.

11ª edição do livro: História da Moda – Uma Narrativa, de João Braga

– Por que a escolha da capa?

A capa é a mesma desde a primeira edição e traz uma ilustração grafitada do New Look de Dior, mas nesta edição com um detalhe de textura do jeans. Eu fiz essa escolha porque Dior é meu estilista preferido e muito significativo historicamente, principalmente quando em 1947, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, ele lançou essa proposta resgatando a feminidade, com saia rodada e cintura marcada. Isso mudou totalmente os rumos da história da moda e passou a ser uma grande identidade.

 

– Como a moda reagiu diante da pandemia?

A principal característica da moda é a mudança. Moda é criação, moda é negócio, moda é forma de comunicação não verbal. Mas, sendo o que for, sua característica principal é a mudança visual. Hoje é curto, amanha é longo. Hoje é justo, amanha é longo. Hoje é colorido, amanhã é neutro.  A moda precisa encontrar suas respostas para se fazer presente. E as mudanças vão acontecendo dentro dos respectivos contextos: social, histórico, religioso, político, cultural. A moda não é autorreferente, ela dialoga com diversas outras áreas e está dialogando com a contemporaneidade. A pandemia trouxe inúmeras interrogações e realidades e no meu ponto de vista, acelerou muitas coisas que já estavam presentes no mundo da moda, como aspecto de inclusão social, valorização do trabalho artesanal, possibilidades das tecnologias, a produção tecnológica, o e-commerce que está super presente. São determinados valores que a moda, assim como a arte, o design, sempre mudam e são contextualizados. Vai mudar o gosto? Vai. Vai mudar o tecido? Sim. Vai mudar o volume? Sim. Muda absolutamente tudo e a moda acompanha esse movimento.

 

– Por que a moda busca referências do passado?

Uma das características da moda contemporânea é o que se chama de releitura. Ela vai e se inspira em referências do passado. Nunca exatamente igual: não é copia, não é figurino. Mas, é uma inspiração atualizada aos tempos. Em função desta realidade, especialmente nos valores de sustentabilidade que a moda está muito atenta, por questões de economia, de não poluição, vem valorizando esses aspectos. A sustentabilidade é apoiada em quatro pilares: ecoambiental, social, econômico e cultural. E a moda dialoga com todas essas áreas. Nesse sentido, outra característica de revisitar o passado é usar a própria roupa do passado, que é o conceito do vintage. E a moda esta super presente om características estilosas. No sentido de que você usa uma roupa de outra época, muitas vezes, diversas épocas e cria uma nova identidade. Isso é uma postura da moda contemporânea.

 

– Por falar em tecnologia, como a moda está inserida no Metaverso?

Isso de certa forma já está acontecendo. É uma nova realidade, uma adaptação da moda aos novos tempos. Esse universo metaverso, digamos assim, está associado à difusão das grandes marcas, que precisam estar atualizadas ao tempo. As celebridades, até mesmo dentro desse contexto de reclusão em casa durante a pandemia, compravam roupas virtuais para lives. Ainda não é do senso comum, mas já é uma realidade possível.

Essas roupas são caríssimas e não existem. Ao mesmo tempo que isso foi favorecido na pandemia, agora vivemos as Semanas de Moda com grande quantidade de pessoas presentes. Isso reflete o desejo de sair de casa e voltar ao convívio social, ao físico. Outra característica da moda é a exuberância, de forma exagerada no sentido de passar a subjetividade. Apesar de existirem as tendências, percebemos que as pessoas querem se diferenciar nas individualidades. Então, quanto mais diferente você for, mais visibilidade você gera. É uma estratégia de marketing. Nem todo mundo vai comprar, mas a marca será vista e gerar inspirações.