A manhã começou com uma reviravolta no universo da moda de luxo: a Gucci anunciou a saída de seu diretor criativo, Sabato De Sarno, após apenas dois anos no cargo. O comunicado oficial, divulgado semanas antes do desfile de inverno 2025, sugere que a decisão pode ter sido tomada em meio a tensões internas. A ausência de um posicionamento do estilista no anúncio da marca reforça essa hipótese e levanta questionamentos sobre a estabilidade da direção criativa da grife.
Mais do que rumores, essa movimentação evidencia um debate relevante sobre a cultura atual da indústria da moda e sua obsessão por resultados imediatos. Considerando o tempo necessário para conceber, produzir e comercializar uma coleção, dois anos são um período extremamente curto. Quando se trata da construção de uma identidade autoral equilibrada entre o legado da maison e a visão criativa do designer, esse prazo torna-se ainda mais limitado.

Desafios e Pressões Econômicas
O histórico da Gucci nos últimos anos ilustra os desafios enfrentados pela grife. Entre 2015 e 2019, sob a direção criativa de Alessandro Michele – hoje na Valentino –, a casa italiana registrou um crescimento médio de 30% ao ano, superando a concorrência. No entanto, a partir de 2020, o cenário mudou drasticamente. A pandemia, as transformações no comportamento do consumidor e a evolução das preferências de mercado impactaram a performance da marca. Enquanto grande parte do setor de luxo obteve um crescimento de 20% em 2021, a Gucci enfrentou dificuldades para recuperar seu desempenho pré-COVID.
Diante desse cenário, a Kering, conglomerado controlador da Gucci, implementou uma estratégia semelhante à adotada por outras grandes maisons: reforço nos clássicos, reedição de best-sellers, design mais conservador e aumento de preços. A abordagem, no entanto, não trouxe os resultados esperados. No último trimestre de 2024, a Gucci registrou uma queda de 25% em seu faturamento, a terceira retração consecutiva da marca. Em meio a essa pressão, Stefano Cantino assumiu o cargo de CEO em outubro passado com a missão de reverter essa tendência negativa. A dificuldade de De Sarno em criar coleções impactantes, aliada às decisões estratégicas da administração, pode ter sido um fator determinante para sua saída.
O Fim da Era dos Clássicos?
Além das questões econômicas, há indícios de um cansaço generalizado em relação à priorização de produtos considerados seguros, como os básicos de luxo e as reedições de peças icônicas. A recente movimentação nas diretorias criativas de grandes maisons sugere um possível esgotamento desse modelo. A moda não pode ser tratada como um produto de consumo imediato, como um item de supermercado. A decisão de compra de uma peça envolve não apenas aspectos como design, materiais e exclusividade, mas também elementos intangíveis, como valor simbólico, status social e relevância cultural.
Com a saída de Sabato De Sarno, a Gucci enfrenta um novo capítulo de sua história, e o mercado aguarda com expectativa o anúncio de seu sucessor. Resta saber se a marca buscará uma abordagem mais disruptiva ou continuará apostando em estratégias conservadoras para enfrentar os desafios do mercado de luxo contemporâneo.