Marc Jacobs reafirmou sua mestria na arte de reinventar a silhueta com o desfile de inverno 2025, apresentado na icônica Biblioteca Pública de Nova York sob o título “Beauty”. Em uma coleção compacta, composta por apenas 19 looks, o estilista usou exagero como ferramenta criativa, explorando proporções audaciosas, volumes esculturais e influências históricas que desafiam os limites do vestível.
Marc brincou com elementos do guarda-roupa vitoriano, como: golas altas, babados e rendas, amplificados a dimensões dramáticas. As criações soavam ancestrais, mas ao mesmo tempo modernas, graças a ajustes inesperados: mangas XXL, golas exageradas e detalhes desconstruídos. Em looks pontuais, calças cargo foram estruturadas com drapeados intensos, enquanto saias assumiam formas geométricas e tridimensionais.
Exagero como Manifesto
Marc Jacobs adotou o contraste como principal motor estético: tricôs acolchoados se opunham a cortes estruturados, saias rígidas lembravam papel estrutural e volumes escultóricos provocavam – às vezes desconforto estético –, questionando o que é considerado “belo”. Mais do que buscar aprovação, o estilista instigou o olhar a perceber beleza na estranheza e na ousadia .
Acessórios de Ficção Científica
Companheiros das roupas, os acessórios ganharam formas surreais: botas com bicos alongados que parecem linguagem de fantasia, bolsas desconcertantes e detalhes de maquiagem exclusivos. Pat McGrath criou círculos labiais e toques de cor, movimentos que reforçam o diálogo entre moda e arte performática .
A trilha sonora com Einstein on the Beach, de Philip Glass, conduziu o público a uma experiência quase hipnótica. A música minimalista, repetitiva e sonhadora ampliou o clima distópico e lúdico que marcava cada passagem das modelos.
Com mangas em formato de coração, barrigas estruturadas e sobreposições inesperadas, Jacobs reforçou sua assinatura criativa. Peças como vestidos de renda adornados com laços enormes e saias shapeadas em bustles desconstruídas dialogam com um imaginário que mistura passado, presente e futuro .
À medida em que criava essa “beleza desconfortável”, Jacobs fazia um manifesto, o mundo era caótico, e a moda podia responder com imaginação. Exagero não significa falta de sofisticação: é, ao contrário, uma forma de questionar, emocionar e transformar a percepção do vestuário contemporâneo.
Claro, não é coleção para o cotidiano. Mas, como exercício criativo, ela acrescenta repertório. Elementos como mangas volumosas, golas estruturadas, tricôs texturizados e silhuetas desconstruídas certamente ganharão ecos nas próximas estações, seja em alta-costura, seja em moda comercial.
O desfile “Beauty” é um lembrete de que Marc Jacobs entende o vestuário como uma linguagem dramática: provocadora, sensorial e cheia de possibilidades. Ele não busca conforto, mas sim presença. E, ao propor silhuetas que vencem a gravidade, sai do campo do vestuário para entrar no teatro da moda.