Margherita Missoni narra sua trajetória criativa para o Iguatemi Talks Fashion

Diretora criativa da M Missoni acredita no passado como referência para inovação

0
717
Screenshot 2020 10 21 090743
Screenshot 2020 10 21 090743

Por Mattheus Lopes*

Me
  Mattheus Lopes

“Eu sempre tive essa ideia de não jogar as coisas fora, mas sim ressignifica-lás. A M Missone carrega o lema de ‘Você sempre vive mais’” – conta a Diretora Criativa da M Missoni, Margherita Missoni na primeira entrevista do segundo dia do Iguatemi Talks Fashion. Coordenada pela Diretora de Conteúdo da Vogue Brasil, Paula Merlo, a conversa focou nos processos criativos de Margherita desde sua vida pessoal até desembocar na criação do branding ético da M Missoni, que desde 2018 vem sendo coordenada pela mesma.

“Para ser criativa, eu tenho que estar entediada. Durante a quarentena aqui na Itália, não só eu, mas acredito que muitos, obtiveram a chance de nos encontrarmos sem fazer nada e as nossas mentes eram o lugar onde podíamos explorar o desconhecido.” Segundo Margherita, para que sua criatividade esteja sempre vivaz e fluida, além de visitar museus, galerias de arte e assistir filmes do século passado, é também em lugares inesperados onde ela se inspira de maneira abundante e inesperada – “Visitar os flea markets é o meu lado B, é onde eu encontro uma diversidade de pensamento, de produtos e de culturas”. Lado B este se refere como ela busca modos inovadores em sua vida, que também se aplica na criação de peças da M Missoni através da reinvenção do passado. Margherita afirma que ao assumir a marca, tomou a decisão de torná-la para uma sustentabilidade comercial, de público, e claro, ecologicamente.

Margherita Missoni
Margherita Missoni

Influenciada por sua mãe e avó desde a infância a reutilizar e costurar peças herdadas para ela e sua irmã, algo que a influência no seu ethos criativo – “Nós reusamos pois estamos dando ao passado uma nova vida, tanto para o material quanto ao conceito da peça. Nós refazemos um produto para que ele possa atender a necessidades modernas. E respeitamos o passado da Missoni, mas também incluo novos valores.” História e narrativas em torno da marca também é analisado por Margherita como o ponto inicial para que possa explorar a união entre passado e presente. Ter tido a oportunidade de estudar o legado de sua família por meio de arquivos, e pedaços históricos em colaboração com a Vogue Itália, permitiu com que criasse a ideia de afeto e colaboração na concepção da “nova Missoni” quando Margherita assumiu em 2018.

A ideia de colaboração não é feita apenas dentro da marca, mas também de forma remota e dispersa. No primeiro semestre deste ano, M Missoni colaborou com a plataforma de cocriação AwayToMars para lançar uma iniciativa onde designers de diferentes localidades pudessem criar peças de acordo com as instruções apresentadas pela Missoni. As roupas que captassem a atenção de Margherita e também votadas pelo público foram unidas para formar uma coleção. Unindo o desejo de reconstruir a marca a partir das perspectivas de mentes impares, Margherita afirma que a “ M Missoni é uma ideia, uma marca para o cotidiano, para pessoas reais. Para pessoas que vivem suas vidas verdadeiramente e não superficialmente. Essas são as pessoas que eu amo colaborar e também tornar como clientes”. Igualmente ao conceito de “você sempre vive mais”, ela também espera encontrar e levar essa ideia para seus parceiros através de suas roupas como a primeira representação do humano na sociedade.

Margherita Missoni

Por ser uma marca em processo de descobrimento de suas consequências fora do meio comercial, Margherita encerra denotando a necessidade dos grandes players serem mais independentes nos padrões de negócio em que se baseiam – “Na Missoni, nós resolvemos implementar apenas uma coleção por ano. Pois queremos que o nosso conceito de peças significativas se faça presente materialmente. Fazendo uma comunicação subjetiva com os nossos clientes de que não são necessárias diversas coleções por ano”. Em sua visão o ritmo do mundo da moda não respondia mais com o real significado das peças de roupa, de ser algo útil e relevante para o consumidor por conta do grande número de opções dentro de apenas um nome porém “com a Covid-19 nós todos estamos coletivamente começando agora a fazer essa reavaliação. Buscando fazer com o que já possuímos, ressignificando o passado mais uma vez”.

 

* Mattheus Lopes – Mattheus Lopes tem 21 anos, é estudante de jornalismo na PUC Campinas, ama estudar a moda como uma expressão social. É criador e apresentador do podcast de entrevistas “It Belongs to The People”,  com uma perspectiva de debates sociais. Mattheus contribui com a cobertura do Iguatemi Talks Fashion para o site da Z Magazine.