Nesta semana, Maria Grazia Chiuri apresentou sua última coleção como diretora criativa da Dior, com o desfile da coleção Cruise 2026 realizado em Roma, sua cidade natal. Com isso, encerra-se um ciclo iniciado em 2016, quando Chiuri fez história ao se tornar a primeira mulher a assumir a direção criativa da maison francesa. Sua saída marca o fim de uma era que transformou profundamente o DNA da Dior, levando a grife a dialogar com temas feministas, sociais e culturais de maneira inédita.
2016: A estreia com uma camiseta que virou símbolo

Logo em sua estreia, no desfile Primavera-Verão 2017, Chiuri deixou claro a que veio. A frase “We Should All Be Feminists”, estampada em camisetas brancas, tornou-se um marco da moda e do ativismo, inspirada no ensaio da escritora Chimamanda Ngozi Adichie. A proposta de unir a alta-costura com questões de empoderamento feminino seria uma constante em sua jornada.
Feminismo e artesanato como pilares criativos

Durante sua gestão, Chiuri criou uma assinatura própria ao incorporar artesanato tradicional de várias regiões do mundo. Em coleções como a Cruise 2020 no Marrocos, ela promoveu o diálogo entre culturas ao integrar técnicas têxteis africanas e artesãs locais à alta moda. Em 2022, no México, a estilista trouxe à passarela o bordado Otomi e homenageou a artista feminista Frida Kahlo.
Alta-costura com discurso e poesia

Na alta-costura, Maria Grazia também impôs sua visão. A coleção Primavera 2020, por exemplo, foi desfilada sob a instalação “What If Women Ruled The World?”, da artista Judy Chicago. Já a coleção Inverno 2023 foi inspirada na escritora e ativista negra Josephine Baker, com vestidos esculpidos em veludo e franjas evocando a estética dos anos 1920 sob um olhar contemporâneo.
Referências clássicas repaginadas

Chiuri soube resgatar o legado da Dior com delicadeza e propósito. Entre os momentos marcantes está o uso do icônico modelo Junon, de 1949, reinterpretado em diversas ocasiões. Ela também revitalizou a icônica bolsa Saddle, transformando-a em objeto de desejo entre as novas gerações, e desenvolveu coleções cápsula que dialogavam com o streetwear de forma sutil e elegante.
Despedida em Roma: Cruise 2026

O desfile Cruise 2026, realizado nos arredores do Coliseu, foi uma despedida simbólica. A coleção mesclou elementos de prêt-à-porter com alta-costura, unindo fraques, coletes e jaquetas militares com saias longas e capas com referências clericais. Plissados e drapeados remetiam à antiguidade clássica, enquanto o veludo e as rendas evocavam o glamour do cinema italiano dos anos 1960, como em “La Dolce Vita”.
Impacto financeiro e cultural
Além do impacto criativo, Maria Grazia deixou marcas no desempenho da maison: sob sua liderança, a Dior viu seu faturamento crescer de €2,2 bilhões em 2016 para €9,5 bilhões em 2023, segundo dados da LVMH. O sucesso de vendas veio acompanhado de um reposicionamento cultural da marca como símbolo de engajamento, empatia e representação feminina.
O futuro da Dior
Embora a maison ainda não tenha anunciado oficialmente quem assumirá o cargo de Chiuri, o nome mais cotado é Jonathan Anderson, atual diretor criativo da Loewe. A escolha sinaliza uma possível mudança estética, mas o legado de Chiuri permanecerá como um dos períodos mais significativos da Dior em termos de discurso social, inovação e protagonismo feminino.
Maria Grazia Chiuri não apenas vestiu mulheres, ela deu voz a elas na passarela. Sua Dior será lembrada como um capítulo em que a moda falou alto, com poesia, política e propósito.