por Leonardo Fernandes*
A edição 2020 do Iguatemi Talks Fashion convidou quatro representantes do mercado de vestuário brasileiro para um bate-papo no evento. Ernesto Xavier, editor da GQ Brasil, conversou com Ana Khouri (fundadora do projeto beneficente Projeto Ovo), Gabriella
Constantino (fundadora do Pretty New), Natalia Hohagen (criadora do Roupartilhar) e Juliana Santos (sócia-diretora da multimarcas Dona Santa) sobre as recentes iniciativas econômicas e sustentáveis no mundo da moda, como a tendência do “second hand”.
Como host da live do evento, Ernesto fez a apresentação do tema e das convidadas que trocaram experiências sobre o assunto. Nesse sentido, o “second hand” é uma prática bastante presente na moda atual com brechós e vendas de peças de luxo semi-novas, que funciona como uma economia circular: o vestuário passa de consumidor para consumidor, sem um fim que vá prejudicar o meio ambiente, e de uma forma que traga benefícios para todos os envolvidos.
De acordo com Ana Khouri, o Projeto Ovo, do qual é criadora, surgiu com a intenção de ajudar na circulação de peças de roupas de segunda mão. Na venda destes produtos online pelo Instagram, o lucro é totalmente direcionado para ONGs de causa sociais. “O projeto nasceu numa vontade de ajudar o próximo, e olhar o todo como parte de nós mesmos. É uma forma de focar em reaproveitar o que podemos passar para a frente”, disse Ana. O Projeto Ovo foi criado em 2014 (quando o mercado ainda não era popular), e hoje ajuda 60 instituições brasileiras.
Gabriella Constantino, que criou o Pretty New como uma plataforma para a revenda de roupas de luxo, contou que o cenário do “descarte” de roupas foi o que motivou no desenvolvimento do projeto: “Uma peça que já não faz sentido para você, pode fazer sentido para outra pessoa. Isso faz com que a moda circule, e que não haja desperdício na produção. Esse é o novo modo de consumir moda e luxo”.
A economia circular também envolve o consumo consciente das pessoas, principalmente no atual cenário econômico afetado pela pandemia. Nesse caso, Juliana Santos fez com que a marca Dona Santa acompanhasse esta tendência de mercado. “As pessoas querem, cada vez mais, comprar com propósito. Por isso, trouxemos e estimulamos o 2nd hand na multimarca. Antigamente, o perfil do consumidor deste tipo de mercado era estigmatizado como aquele que comprava apenas nos brechós; e hoje, os clientes que já consumiam a marca compram e consomem o second hand sem preconceito”, explicou Juliana.
A pandemia em 2020 afetou todo o processo de mudança no mundo da moda que já estava acontecendo. Para Gabriella, isso acelerou a disseminação da economia circular no setor de vestuário: “Até 2023, a gente espera que o mercado de second hand vá dobrar de tamanho. É algo que está expandindo muito”.
Quando a pauta ambiental foi colocada em foco na live, Natalia Hohagen disse acreditar num compromisso da moda com o meio ambiente. “A gente utiliza de muitos recursos do meio ambiente, então precisamos pagar e ressignificar isso com um retorno para a natureza. Estamos numa indústria que é uma das mais poluentes, que têm pouca inclusão e diversificação; então é importante termos este olhar com a moda. É uma obrigação social”, contou Natalia.
* Leonardo Fernandes tem 21 anos, estuda Jornalismo na PUC-Campinas, e já foi colaborador e redator do Portal Tracklist, parceiro da MTV Brasil. É interessado no universo das redes sociais, e em como o mundo pop é capaz de influenciar a sociedade. Contribuiu com o site da Z Magazine na cobertura do Iguatemi Talks Fashion.