No desfile silencioso e glamouroso do tapete vermelho, há algo mais em jogo do que apenas um look: há narrativas sendo contadas em cada tecido translúcido, cada fenda estratégica e cada gola alta de impacto. A sensualidade na moda está em evidência — mas não de uma forma homogênea. Em 2025, o red carpet virou um campo de tensão fashion entre o ultraexposto e o elegantemente velado.
De um lado, celebridades aderem com fervor ao chamado “naked look” — vestidos que simulam a nudez através de tecidos translúcidos, efeitos de ilusão ótica e modelagens quase líquidas no corpo. De outro, o Festival de Cannes, tradicional palco de sofisticação europeia, impôs este ano um retorno à modéstia como declaração estética, limitando decotes e transparências nas sessões oficiais. Estaria a moda sensual se reinventando em direções opostas?
Naked Look: Quando a pele é a estrela
A tendência do “naked look” não é nova — basta lembrar das musas dos anos 1990, como Kate Moss, ou dos vestidos icônicos de Cher nos anos 70. Mas em 2025, ela assume um tom ainda mais tecnológico, com tecidos que simulam nudez com perfeição. Os looks desfilados por nomes como Zendaya e Anitta incorporam bordados estratégicos, transparências dramáticas e silhuetas esculpidas, provocando impacto visual com precisão quase cirúrgica.


Marcas como Nensi Dojaka, LaQuan Smith e até maisons tradicionais como Valentino têm apostado em cortes assimétricos, recortes orgânicos e tecidos como tule, malha metálica e organza translúcida. É uma sensualidade que não esconde nada — e, ao mesmo tempo, revela controle, poder e performance.
Cannes 2025: a volta do recato como statement
Em contraste, o Festival de Cannes deste ano trouxe uma virada de tom. A organização do evento reforçou um dress code mais tradicional, priorizando elegância discreta em seus eventos oficiais. Decotes profundos e fendas extremas deram lugar a vestidos com mangas longas, saias estruturadas e tecidos opacos — uma estética que lembra a era de ouro de Hollywood.

A nova política de vestimenta, que dividiu opiniões, não anulou a sensualidade, mas a deslocou para o território do implícito. Looks como o de Juliette Binoche e Hunter Schafer, por exemplo, apostaram na fluidez de tecidos nobres e em cortes minimalistas, provando que o mistério ainda tem lugar no desejo contemporâneo.
A história da sensualidade na moda: do sussurro ao grito
A moda sensual tem uma história que flutua entre opressão e libertação. No século XIX, o espartilho comprimido escondia corpos e desejos. Já nos anos 20, com as flappers, veio a silhueta solta e as pernas à mostra. Nos anos 50, a feminilidade curvilínea foi revalorizada. Depois, vieram os anos 70 e 90, que reinventaram o nu como um manifesto de liberdade.
Hoje, com a cultura digital e o corpo em constante exibição nas redes sociais, a sensualidade ganhou novas camadas: não se trata apenas de mostrar pele, mas de assumir controle sobre como e quando se mostrar. Nesse contexto, tanto o naked look quanto o recato sofisticado de Cannes representam lados de uma mesma moeda — o desejo de se expressar livremente, mesmo que de formas opostas.
Sensualidade como linguagem plural
O que vemos hoje no red carpet é menos sobre tendências e mais sobre narrativas pessoais. Enquanto uma estrela aposta no body mesh transparente cravejado de cristais, outra se cobre em camadas de tafetá opaco e gola alta. Ambas, no fim, estão se comunicando com o mesmo idioma: o do corpo, da presença e da identidade.
Essa pluralidade faz da moda atual um território riquíssimo. O “naked” não cancela o “covered”, e a ousadia não exclui a elegância. Pelo contrário: juntas, essas estéticas mostram que sensualidade não é fórmula — é escolha.
O red carpet de 2025 revela um paradoxo fascinante: quanto mais livre a moda se torna, mais ela valoriza a diversidade de formas de expressão. E se há algo que aprendemos com esse embate entre o transparente e o reservado é que, na moda, o verdadeiro impacto está na intenção por trás da escolha — não apenas no quanto se mostra.
Seja com tule, seda ou veludo, a sensualidade segue viva, plural e instigante. E o tapete vermelho, mais do que nunca, é o palco perfeito para explorar todas as suas nuances.