Como um dos pilares mais importantes de uma obra cinematográfica, o figurino é essencial para ambientar uma trama e trazer camadas aos seus personagens. Um fenômeno do momento atual do cinema são os filmes de Robert Eggers, conhecidos pela atenção aos detalhes históricos, e sua releitura de Nosferatu não fugiu à regra, conquistando diversos fãs com apenas poucas semanas de exibição nos cinemas. O terror gótico, ambientado em 1838 em uma fictícia cidade alemã, ganha vida não só pela atmosfera sombria, mas também pelo figurino impecável, criado por Linda Muir. Colaboradora de longa data do diretor, Muir trouxe autenticidade e profundidade à narrativa com roupas que contam suas próprias histórias.
A Pesquisa que Molda o Gótico
De acordo com Muir, o processo criativo começa com a visão de Eggers. A partir de um lookbook inicial e das referências incorporadas ao roteiro, a figurinista mergulhou em uma pesquisa extensa sobre peças vintage, materiais têxteis alemães do século XIX, pinturas e ilustrações da época. Um diário de moda de 1838 foi uma das fontes mais preciosas para construir o figurino, alinhando-o à estética do período.
As roupas, acessórios e calçados foram criados especialmente para o filme. Cada detalhe foi pensado para dialogar com os cenários de iluminação escassa, marcados por velas, fogo e sombras profundas, características que permeiam o visual gótico de Eggers.
Vestidos e Alfaiataria: Entre o Luxo e o Cotidiano
Os figurinos femininos foram outro ponto de atenção no filme Nosferatu, e refletem não apenas as classes sociais, mas também a psicologia das personagens. Ellen Hutter, vivida por Lily-Rose Depp, tem uma vida simples e poucas peças à disposição, contrastando com Anna Harding, interpretada por Emma Corrin, cujas roupas luxuosas e variadas representam sua origem rica.
Muir optou por cores claras e tecidos reluzentes para criar uma estética etérea, mas também explorou simbolismos mais profundos. Os corsets de contenção de Ellen, por exemplo, representam sua repressão emocional e sexual, enquanto um corpete especialmente desenhado permitiu uma cena em que Depp o rasga dramaticamente.
Já a alfaiataria masculina trouxe um desafio: traduzir um período em que roupas eram feitas sob medida, sem padrões uniformes. Profissionais especializados em diferentes peças criavam roupas de forma artesanal, e a quantidade de tecido em uma peça era um indicativo claro de poder aquisitivo.
O Antagonista: Conde Orlok e o Peso do Tempo
Mas, o figurino mais marcante do longa é o de seu antagonista, Conde Orlok, interpretado por Bill Skarsgård. Com mais de três séculos de vida, suas roupas revelam luxo e decadência ao mesmo tempo. Tecidos pesados e caros, típicos de nobres de séculos passados, foram utilizados, mas precisavam parecer envelhecidos, quase tão desgastados quanto o próprio vampiro.
Para manter o mistério, o figurino também teve a função de esconder as feições desumanas e decompostas de Orlok. Um casaco de pele volumoso e botas de couro reforçam sua presença ameaçadora. Por conta do peso das peças, um arnês foi embutido no casaco para facilitar os movimentos de Skarsgård.
Uma Parceria Artística de Sucesso
Linda Muir já havia trabalhado com Eggers em filmes como A Bruxa (2015), O Farol (2019) e O Homem do Norte (2022). Cada produção trouxe desafios únicos, mas em Nosferatu, o figurino alcança uma nova dimensão, não apenas como parte da ambientação, mas como um elemento essencial para narrar a história e que deve influenciar a moda fora das telas.
Para Eggers, essa releitura de Nosferatu é a realização de um sonho antigo. Ainda no ensino médio, ele dirigiu uma peça baseada no clássico de 1922, inspirado no romance Drácula de Bram Stoker. Agora, com Linda Muir e sua equipe, ele traz à vida uma visão gótica que promete marcar o cinema contemporâneo e as páginas da história da moda.