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QUANDO MODA E ARTE SE ENCONTRAM: 5 OBRAS PARA 5 DESFILES

9 de abril de 2025

#Destaque

By: Redação

Por: Erika Paiva.

No último domingo chegou ao fim a  21ª edição da SP-Arte, a maior feira de arte da América Latina. O evento possui grande importância tanto para o cenário artístico nacional quanto o internacional, pois além de fortalecer o posicionamento do Brasil nesse mercado, diante do resto do mundo, se tornou uma referência e um ponto de encontro para artistas, profissionais, estudantes, colecionadores, compradores, galeristas e entusiastas como eu, que visam debates sobre o assunto, contribuindo para o seu crescimento.

Você pode estar se questionando, mas o que moda tem a ver com arte e design? Posso assegurar, TUDO! A conexão entre essas áreas, que podem parecer desconectadas a primeira vista, é um reflexo criativo que responde a várias questões relacionadas a humanidade, tanto do passado, como do mundo contemporâneo. Cada uma delas, possui características e especificações próprias, porém possuem vários denominadores em comum: a busca e o uso da estética, da funcionalidade, de questões culturais, históricas e comportamentais, de pesquisa para a criação de uma identidade, das inovações, da sustentabilidade, da política, das ideologias e pensamentos, entre tantos outros aspectos.

Essa conexão tem um dinamismo muito profundo e fluido, pois não só se relacionam de forma intima, como se influenciam mutuamente e de diversas maneiras, o que gera experiências complexas e enriquecedoras no campo visual, sensorial e emocional, transcendendo o tempo e qualquer tipo de barreira.

Juntas, diante de um terreno fértil onde a principal ferramenta é a criatividade, conseguem transformar o objeto mais banal em algo extraordinário, convidando o observador a ver e viver o mundo por novas perspectivas, o que possibilita uma maior pluralidade na forma de se expressar como indivíduo ao passo de pertencer ao coletivo.

Diante disso, após 3 dias de imersão na SP-Arte, separei 5 obras, que chamaram minha atenção, para traçar um paralelo com a moda, com o objetivo de exemplificar a união e a interação entre essas três áreas. É possível fazer essa análise, de diferentes maneiras: explorar os conceitos, as referências, as funcionalidades, as estampas, as cores, as proporções, as formas, as volumetrias, as texturas, os materiais… entretanto decidi explorar essas obras, utilizando os desfiles da última temporada de moda de Outono/Inverno 2025.

  • Holm de Victor Vasarely X Desfile YSL Outono/Inverno 2025

A obra Holm exprime todas as características de seu criador, Victor Vasarely, considerado o pai da Op Art. O quadro apresenta uma composição entre formas geométricas puras e simples, sendo elas quadrados e círculos de cores intensas, sobrepostas por um fundo preto, o que lhe garante profundidade, assim o observador passa a ter uma distorção visual, o quadro que é plano, passa a ter movimento, efeito conhecido como ilusão ótica. Todos esses elementos de design e seus efeitos também estão presentes no último desfile de YSL. Anthony Vaccarello, diretor criativo da marca fez um exercício interessante entre técnica, forma, volumetria e cor. Segundo ele, o seu desejo era criar uma coleção limpa, sem ornamentos e decorações, simplesmente manter as formas puras, que por si só foram responsáveis por criarem a silhueta da temporada. Para dar mais efeito, pela primeira vez, usou uma paleta de cores mais intensa e contrastante, trazendo mais elasticidade para as volumetrias. Falando nisso, Vaccarello também fez uso da ilusão de ótica em suas silhuetas, em dois momentos distintos. No primeiro, vemos um volume ousado na região dos ombros, criando o efeito de uma silhueta triângulo invertido. No momento seguinte, esse volume se desloca dos ombros para a parte inferior do corpo, com saias extremamente circulares, longas e volumosas, em tons mais escuros.

Podemos perceber as semelhanças entre a obra e o desfile, pois ambos compartilham dos mesmos elementos de design, para criar uma estética de formas geométricas, com cores contrastantes, que distorcem a realidade, criando uma ilusão ótica, promovendo uma resposta emocional e sensorial, aos espectadores.

  • Cumplicidade Vetoriais de Túlio Pinto X Desfile Elie Saab Outono/Inverno 2025

Túlio Pinto é um artista contemporâneo brasileiro reconhecido por suas esculturas e instalações marcadas pelo uso de metal, vidro e pedra. Suas composições impactantes nos convidam a refletir sobre a tensão que existente entre o peso e a leveza, a instabilidade e o equilíbrio e a força e a sutileza. O mais interessante em sua obra é sua capacidade de nos revelar a harmonia que existe nessa ambiguidade. Apesar de serem esculturas, portanto objetos tridimensionais estáticos, elas instigam a sensação de movimento e muitas vezes geram emoções contraditórias de inquietação e ludicidade, nos questionando como é possível algo tão frágil e leve como o vidro resistir a força e a estrutura do metal. Ao se tratar de uma estética que possui como principal característica a tensão entre os materiais, ora marcados pela delicadeza e fragilidade, ora pela rigidez, pela força, e pelo peso, podemos traduzi-la para a moda, por meio do uso de diferentes texturas e tecidos, o que pode ser observado no desfile Outono/Inverno 2025 de Elie Saab. A marca surpreendeu com uma coleção mais neutra e minimalista em cores e estampas, porém chamou a atenção pelo uso extravagante de texturas. Para o seu inverno, foi criado um cenário pós ski, no qual mulheres glamorosas se aquecem das baixas temperaturas da montanha. Entre os Looks desfilados podemos apontar vestidos e macacões em tons de nude e marrom fluidos usado com casaco ou colete comprido e pesado, de pele. Há também dois Looks de saia preta longa e esvoaçante, com casaco esportivo volumoso preto ou amarelo cítrico. Não podemos nos esquecer dos Looks de saias bordadas com transparência, usadas com tricots alongados.

  • Libro de la Sabiduría de Pablo Atchugarry X Desfile Comme des Garçons Outono/Inverno 2025

Pablo Atchugarry é um escultor uruguaio contemporâneo conhecido por suas esculturas que lembram os monólitos primitivos e outras esculturas da antiguidade greco-latina. Suas obras minimalistas exaltam formas abstratas, em forma de colunas sinuosas. Seus recortes, volumes, cheios e vazios, extraídos do mármore, possuem uma estética dramática e arquitetônica. As características presentes na obra de Pablo Atchugarry também pode ser compreendidas pelo trabalho da marca disruptiva Comme des Garçons de Kawakubo, que quebra as barreiras da roupa, para criar um objeto com mais expressão artística e arquitetônica. Com silhuetas exageradas e nada convencionais, ele faz uso de formas esculturais geométricas, volumes arquitetônicos, linhas assimétricas e cortes abstratos. É mais que nítido a semelhança entre ambos trabalhos.

  • Inspiração nas tradições portuguesas de Joana Vasconcelos X Desfile Dries Van Noten Outono/Inverno 2025

Joana Vasconcelos, uma das artista mais importantes do cenário contemporânea, se destaca  por suas instalações e esculturas que mesclam tanto técnicas tradicionais como atuais e o uso de uma ampla gama de  materiais ao mesmo tempo, que vão desde resíduos têxteis, como cerâmicas, metal, plástico, o que garante a sua obra uma rica plasticidade. Outra característica marcante em seu trabalho é a utilização de materiais e objetos do cotidiano, considerados banais, o que agrega um ar lúdico em sua obra. Entre seus temas mais trabalhados, podemos apontar a feminilidade, a questão de identidade, o resgate das raízes culturais portuguesas e a relação entre passado e presente. Joana já é íntima no mundo da moda, ela foi responsável por criar uma instalação que serviu de cenário para o desfile Outono/Inverno 2023-2024 da Dior, no qual usou cerca de 20 tecidos diferentes, para criar um verdadeiro patchwork, algo bem característico em suas obras.Mas não parou aí, todas as lojas da Maison receberam uma instalação da artista, para compor sua fachada, durante aquela temporada. Em 2023, uma parte de trabalho foi exposto  no MON, em Curitiba. Quem tiver a oportunidade e quiser conferir de perto um fragmento dessa obra, pode conferir na loja da marca em Lisboa, essa é a única loja com a instalação permanente. Confesso que sou uma grande fã de seu trabalho e toda vez que assisto ao desfile de Dries Van Noten, um designer que infelizmente não é tão conhecido, mas dono de uma genialidade fora da curva, que nos proporciona verdadeiras experiências não convencionais, a obra de Joana surge em minha cabeça. A marca, tem uma estética muito própria, entre seus códigos, podemos destacar: o uso de diferentes texturas (faz o exercício de laboratório, experimentando todos os tipos de tecidos e acabamentos) estampas (tanto florais, como geométricas e abstratas), bordados e cores vibrantes. Apesar de todas essas características, o que realmente define o o seu DNA é a combinação de todos esses elementos, que no primeiro momento, parece algo impossível, por serem muito diversos e dissonantes, mas que resultam em Looks incríveis, considerados verdadeiras obras de arte. Com um design autoral, ele resgata temas como a identidade e a diversidade do mundo, trazendo elementos tradicionais de várias culturas, tanto da atualidade, como do passado. Por ser um grande defensor da sustentabilidade, todo o seu trabalho é realizado por meio de técnicas artesanais, fazendo uso de resíduos têxteis e matéria prima com produção sustentável. Toda a sua estética, temas e técnicas se aproximam da obra de Joana, mas devo dizer que em seu último desfile, no qual o novo diretor criativo da marca, Julian Klausner, trouxe para a passarela uma overdose de cores, estampas, texturas, detalhes, aviamentos, tudo junto e misturado, se sobrepondo. O ponto alto, que me transportou para uma instalação de Joana, foi o uso de franjas, macramê e tassel, elementos muito presentes sem suas obras.

  • Poltrona Chifruda, de Sérgio Rodrigues X Desfile Duran Lantink Outono/Inverno 2025

A relação arte, moda e design é algo muito intrínseco, por isso, não poderia deixar de trazer uma análise entre o design mobiliário e a moda. Sou uma grande entusiasta do design, principalmente o design mobiliário brasileiro, nesse momento acredito que o meu lado arquiteta grita dentro de mim. Seria um delito de minha parte, se não trouxesse um design de Sérgio Rodrigues, um dos principais nomes do design do Brasil e que nessa edição da SP-Arte, foi homenageado pelo o centenário de seu nascimento. A peça que escolhi para fazer esse paralelo com a moda, foi a Poltrona Chifruda, criada em 1962, para a  exposição “O Móvel como Objeto de Arte”, essa idealizada pelo próprio designer. Para entender sua importância e seu conceito, é necessário entendermos o contexto no qual estava inserido. Sérgio Rodrigues, que também era arquiteto, viveu num período marcado pelo movimento  modernista, ao lado de outros grandes nomes como, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha, Lina Bo Bardi, Rino Levi e Warchavchik. Entre as premissas do modernismo, uma das mais importantes era “a forma segue a função”, ou seja, tanto na arquitetura, como no design, não havia espaço para ornamentações, para plasticidades que não condiziam com o uso do espaço ou objeto. É aqui que entra Sérgio Rodrigues, quebrando a estética convencional da época, para ele, a forma não precisava seguir a função, o mais importante era valorizar a criatividade brasileira, as habilidades dos nossos artesãos, dos nossos materiais. Essa obra é considerada a vanguarda do design pós-modernista, em nível internacional, que teve início na década de 70. Com a proposta “forma pela forma”, a poltrona extravagante de madeira e couro, possui formas complexas, que carrega uma memória lúdica, unindo criatividade e sofisticação. Sua cabeceira se assemelha ao formato de um chifre, por isso o nome. Sua inspiração nasce de um mix de crítica e ironia, pois na época, o mercado brasileiro de design só possuía cópias de obras escandinavas, que faziam muito sucesso mundialmente. A ideia então, foi produzir uma forma que lembrasse os chifres dos capacetes vikings, uma peça do vestuário típico da cultura da região. Ao pensar em criar um objeto, uma arquitetura, partindo do conceito “forma pela forma”, o ultimo desfile de Duran Lantink veio automaticamente na minha cabeça. Esse chamou atenção mundial ao apresentar Looks nada convencionais e funcionais. Por meio de técnicas de enchimento de espuma, o diretor criativo realmente trabalhou dentro da mesma ideia de Sérgio Rodrigues, trazendo peças lúdicas, com ombros deslocados que param na altura da orelha, quadris desproporcionais e anatomicamente fora do lugar e formas ampulhetas exageradas e estruturadas. A proposta do desfile foi quebrar as regras, os padrões, principalmente os ligados à beleza e trazer uma reflexão do bonito e “mau gosto”. Foi um verdadeiro laboratório, com inúmeros experimentos, que nos provocam, assim como a poltrona Chifruda.

De antemão digo, poderia escrever facilmente uma tese sobre o assunto e trazer centenas de comparações entre obras e desfiles. Confesso que foi muito difícil permanecer em apenas cinco exemplos, mas acredito que com eles, fica claro que estamos falando de manifestações artísticas distintas, porém totalmente interligadas, que refletem a complexidade humana. Ao traçar esses paralelos, é nítido que o diálogo entre elas é enriquecedor e profundo, contudo a questão mais relevante é que juntas, conseguem construir uma identidade de impacto social e cultural, não apenas do mundo atual, mas também ao longo da história da humanidade. O último aspecto que gostaria de levantar é a importância de tecer conhecimento a partir de  diferentes áreas. Essa convergência nos permite acessar novas perspectivas,  ampliando nosso pensamento e garantindo nossa evolução como pessoa e sociedade.

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