Moda e sociedade

25 de setembro de 2018

#Destaque

By: Redação

Por Raíssa Zogbi

“A moda é o espelho do mundo”. Foi com essa frase que Dudu Bertholini abriu uma importante reflexão na palestra de quase duas horas, que comandou no dia 18 de agosto, no Senac Campinas. Com a energia lá em cima, o estilista e coordenador criativo do Instituto Europeu de Design (IED) de São Paulo falou sobre as diferentes frentes da moda como parte do mercado econômico e até sobre seu futuro. Mas, o destaque ficou para seu caráter de agente transformador da sociedade.

De acordo com ele, a moda se configura como um sistema de renovação permanente que traduz o desejo de pessoas, grupos, tribos e até da sociedade. A partir da análise das vestimentas de cada período, é possível, portanto, compreender o contexto social, econômico e cultural  do lugar e época. “Por trás de uma peça, de uma silhueta ou cor existem denominadores antropológicos do mundo que vivemos. Se hoje gostamos de usar roupas confortáveis é porque o mundo pede praticidade. Sempre existe uma razão humana, social, cultura, antropológica por trás”, explica.

Retrocesso da moda

Em diversos momentos da história da humanidade foi possível atrelar o contexto à forma como as pessoas se vestiam. “No século XIX, um período de retrocesso da moda, as mulheres voltaram a usar os corsets mais apertados que existiam, que chegavam até a furar as costelas. Ou seja, era uma forma de reprimir a liberdade feminina”, destaca Dudu.

Emancipação feminina

Após a Revolução Industrial, a sociedade passou por um momento de manifestação feminista com as sufragistas que lutavam pelo direito do voto da mulher. Nesse período, segundo ele, o estilista francês Paul Poiret introduz no vestuário feminino peças com inspirações orientais como túnicas, quimonos e calças modelo harem, que libertam a mulher do espartilho. “É muito mais do que uma questão de silhueta ou shape da roupa.  É a moda como agente de transformação social e emancipação feminina”, diz ele.

Atualidade

A partir dos anos 2000, a moda se tornou fluída e as décadas pararam de ser classificadas por elementos e tendências. “A revolução da comunicação acelera os ciclos de moda tão rápido que não existe mais regra absoluta. Ninguém quer mais pertencer a uma única tribo. A individualidade passa a ser a palavra-chave e junto a ela, a urgência de quebrar os padrões”, afirma Dudu.

Sobre o futuro da moda, Dudu é otimista e acredita que ela pode potencializar seu caráter de inclusão. Acompanhe a breve entrevista.

– O que pensar para o próximo século da moda?

Uma era de menos custo fixo e mais colaboração. Novos modelos de negócio. Estamos em meio a uma revolução tecnológica, da comunicação e, principalmente, afetiva. Acreditem, possivelmente daqui a 10 anos todo mundo vai ter uma impressora 3D em casa e as modelagens estarão na internet para cada um imprimir sua própria roupa. Hoje, precisamos entender que a moda e a sociedade vão precisar trabalhar por um mundo mais afetivo, empático e justo, onde todo mundo ganha. Hoje, a moda abraça as causas do mundo. A Cute Circuit, por exemplo, fez um projeto maravilhoso para deficientes auditivos em uma orquestra sinfônica, através de uma jaqueta com sensores que transmitia a sensação de todos os instrumentos. Por isso, quando falamos em tecnologia na moda, não falamos apenas das roupas sustentáveis, falamos de experiências humanas. É uma tecnologia afetuosa, empática. Uma analogia entre humano e tecnologia.

 – Existe um paradoxo entre o mundo conectado e o movimento slow fashion. Como funciona essa relação na moda?

A tecnologia vai apoiar o slow fashion. Apesar dela ter acelerado as técnicas de produção e de do desejo de consumo, é justamente a internet que vai permitir que a gente conheça empresas para comprar, por exemplo, diretamente do produtor. Além disso, ao mesmo tempo que uma marca enorme apresenta seus lançamentos, uma pequena que lança uma peça por ano também pode expor suas novidades de forma gratuita e fácil na internet. A tecnologia quebra a sazonalidade e ajuda a espalhar esse pensamento consciente. Se o pensamento slow não fosse transmitido tão rápido pela internet, talvez ele não ganhasse força.

 

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