Marco Antonio de Biaggi

Uma trajetória de superação, fé e bom humo

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Por Raíssa Zogbi

O rei das loiras, o cabeleireiro das estrelas, o gênio das capas de revistas. Marco Antonio de Biaggi dispensa apresentações, mas merece todos os sinônimos de superação e fé que possam existir. E sua trajetória, que vai da periferia a bastidores picantes das Playboys, com passagem dolorosa em um hospital e um retorno emocionante ao trabalho agora é retratada na obra do jornalista João Batista Jr., A Beleza Da Vida. Depois de 45 dias em coma e da luta intensa contra um câncer no sistema linfático, Biaggi volta a fazer o que mais ama: trabalhar com a beleza.

Z Magazine: Como tudo começou? Você sempre sonhou em ser famoso?
Biaggi: Eu tinha certeza de que eu iria dar certo. Eu lia muito essas revistas de Seicho-No-Ie (filosofia de vida japonesa que estimula o autoaperfeiçoamento espiritual e a harmonia entre a humanidade e a natureza) e tinha o hábito de escrever a lápis, os meus sonhos detalhadamente. Depois eu descobri que em Harvard, 3% que brilham mais do que 97% também tinham esse hábito. E eu fazia isso inconsciente. Eu queria dar uma vida melhor para os meus pais, mas eu pedia: “eu quero ser famoso”. Eu só não sabia o que eu queria ser. Até que um dia, eu que era um menino de periferia, fui até o centro da cidade e vi em uma capa da revista Time, um close da Brooke Shields como o rosto do século. Foi o meu despertar, eu nunca mais fui o mesmo. Eu falei: “eu quero ser desse mundo, quero fazer mulher bonita”. E aí isso aconteceu um pouco depois com a capa da Nova.

Z Magazine: Mas, antes disso você foi reprovado pelo Senac, certo?
Biaggi: Fui reprovado pelo Senac na turma oral. O professor me perguntou por que eu queria ser cabeleireiro. E eu respondi: “eu quero ser famoso, quero fazer capa de revista, eu quero sentar na primeira fila dos desfiles”. Me deu um ataque de sinceridade. Fui reprovado e voltei seis meses depois. Me fizeram a pergunta de novo e eu respondi que por enquanto eu só lavava cabelo e varria o chão do salão e que se eu fizesse esse curso eu poderia me transformar em um profissional da beleza. Fui aprovado!

 Z Magazine: E como foi sua primeira capa?
Biaggi: Depois de muitos nãos, eu fui para uma agência, onde fazia ilustração de horóscopo, abertura de matéria. Até que chegou um dia que a diretora da Nova, Marcia Neder, me pediu para fazer o cabelo dela para mudar a carta da coluna. E aí ela falou que eu tinha mão chique e me convidou para produzir a modelo da capa. Ela me perguntou: “você tem trabalho para a segunda?”. Eu falei: “ai preciso ver”. Mentira, eu não tinha nada! E então fiz minha primeira capa. E eu esperava ansioso para chegar a revista nas bancas. Por ironia do destino, a modelo, na época muito famosa, morre de overdose bem no dia que a revista saiu. Então virou minha alegria com quê de tristeza. Depois deslanchei e fiz 254 capas, entre elas com Luma de Oliveira, Luiza Brunet e Ana Paula Arósio.

Z Magazine: E a Adriane Galisteu?
Biaggi: A Galisteu foi meu passaporte. Eu trabalhava no Beka, e fazia 5 cortes de cabelo por dia. Média boa! Depois que fiz a Playboy na Grécia com a Galisteu eu passei a fazer 30 por dia. Me tornei o rei das loiras. Foi meu pé de coelho.

 Z Magazine: Qual o seu capítulo favorito do livro?
Biaggi: Tem partes divertidíssimas. Eu adoro os bastidores da Athina Onassis. Você imagina pentear uma estrela dessas? Que o avô foi Aristóteles Onassis, foi casado com Maria Callas. Dai eu chego naquele quadriplex, com aquelas telas imensas de cavalo, ela mesma me abre e me pergunta se eu quero um café. Ai eu falei: “meu Deus, Athina Onassis foi pegar café pra mim”. E é aí que você vê que todas as pessoas são iguais.

Z Magazine: Como surgiu a ideia do livro?
Biaggi: Quando a Abril me convidou para fazer o livro, eu nem imaginei que pudesse lembrar de tudo. Eu tinha feito mais de 20 sessões de quimioterapia, perdido 40 quilos. Para falar a verdade lembrei até demais. Espero que meu pai de 82 anos não leia, se não ele se joga do prédio.

 Z Magazine: Por que escondeu a doença?
Biaggi: Imagina, eu trabalho com beleza, com cabelo. Eu tinha contrato milionário com a Avon. O único medo que eu tive durante a doença era de perder as clientes. Não tinha medo de morrer. Eram 100 famílias que dependiam de mim, afinal eu gero emprego. Mas, eu tinha certeza plena de que eu iria curar. Então quis falar na hora certa. Até que o João Batista Jr. me ligou e falou: Marco Antonio está na hora de falar. E aí eu, que não sou bobo nem nada e já tinha tomado uma taça de vinho mesmo sem poder, perguntei: “vai ser capa?”. E então fui capa da Veja que teve muita repercussão. Meus pais não queriam, mas segui meu coração. Foi libertador.

Z Magazine: E como voltou ao trabalho?
Biaggi: Meus médicos falavam que o trabalho iria me ajudar muito, mas eu não queria ir de andador. E aí eu fui em um vidente. Já fui em centenas, uma porcaria, todos erram, mas eu vou. Eu tinha ido três anos e eu detestei o cara, porque ele leu no copo disse que me viu muito magro e de cabelo branco, mas disse que eu daria a volta por cima. Se você é famoso, você vai ficar três vezes mais. E então ele falou: “engraçado, você não tem sorte no amor, sua vida é congelada. Mas, sucesso e dinheiro nunca vão te faltar”. Aí eu falei: “bom menos mal né, pior congelado e duro”. Enfim, tinha detestado. Depois que eu sai do hospital, o vidente me ligou e disse que eu precisava voltar a trabalhar. A energia do trabalho vai voltar para você. Voltei no dia seguinte. Foi a melhor coisa que eu fiz.

 Z Magazine: E como surgiu o estilo da golinha levantada?
Biaggi: Quando eu comecei, era o auge da golinha. As pessoas iam para Capri, Saint Troppez com a gola em pé. Até o dia que uma cliente me deu e eu comecei a usar. Aí surgiu a Polaroid, eu fui fazer uma capa e aí notei que era um bom truque no papinho. Depois eu parei de usar porque fiquei magérrimo, mas as pessoas me pediam a foto da golinha. Não tem mais jeito. Tenho vontade de colar com Super Bonder, rs.

Bate-bola:

A gola favorita é da marca: La Martina, argentina, é a única que fica em pé mesmo
Perfume da vida: Oud, que os árabes usam, bem forte
Produto que não sai da nécessaire: sempre um pó bronzeador
Maior dica para os fios louros: uma cápsula de ômega 3 e óleo de coco antes de dormir no cabelo. No dia seguinte, lave duas vezes com shampoo e condicione.
Frase que define sua vida: a vida é bela